domingo, 19 de junho de 2016

Diário | Quarteto de uma pessoa?

“Bem-vindos ao concurso de dança tradicional. Está a ser um momento único de viajarmos pelos municípios da nossa província através dos hábitos e costumes dos seus povos. Já passaram quatro grupos, agora vem o quinto!”
“Boa noite, ilustre corpo de jurado.”
“Boa noiteee, amigo!!! Como estão? Usamos o plural porque a sinopse indica que teremos um quarteto. E os outros integrantes onde andam?”
“Por acaso é quarteto de uma pessoa só sobre a dança tradicional do Chongorói.”
“Quarteto de uma pessoa? Quer ajudar-nos a entender melhor?”
“É uma coreografia de quatro actos, só comigo.”

“E qual é o tema da dança?”
“É sobre o ciclo de vida do homem mukilenge, do nascimento à circuncisão. Da caça à pastorícia. Do casamento ao enterro…”

“Muito bom. O senhor é de lá?”

“Claro que não! Vou lá de vez em quando. Aquela gente não entende nada de estudos, só se preocupa com o gado e as bebedeiras. Porque não é para qualquer um entender o padrão universal da dança, que como sabemos é como o perfume e a música, só tem sete elementos.”
“Ah, sim?…”
“Eu até vou melhorar o que tem sido feito até agora, porque é preciso originalidade, e os nativos não entendem nada disso.”
“E como irá o amigo desvencilhar-se entre a dança e a percussão, estando sozinho em palco?”
“Esta é uma das inovações, vou dançar sem suporte. Porque aquele povo precisa deste prémio, que vai representar de maneira universal a sua cultura.”
“Mas lá como é que se faz originalmente? É com ou sem suporte?”
“É com suporte. Batuque, compasso de paus ou rugidos do próprio peito. Mas não faz falta, porque cada artista tem a sua sensibilidade estética própria…”
“Mas não lhe passou pela cabeça levar a cabo tal tarefa junto com os nativos do Chongorói, os quais afinal de contas se propõe representar?”
“Eu?! Por amor de Deus! Eu tenho alguma formação e viajo um pouco pelo mundo… além de que sempre tive um amor muito grande pelas terras do Chongorói. Isso não é já suficiente? A inspiração em dança não é universal e sem fronteiras?”
http://angodebates.blogspot.com/
Gociante Patissa, Benguela, 19 Junho de 2016
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