segunda-feira, 9 de maio de 2016

Opinião | Mais perguntas que respostas: AINDA O COMUNICADO DA CEAST NA BRIGA ENTRE A RÁDIO ECCLESIA E A UNIÃO EUROPEIA

O comunicado da CEAST (Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe), que surge para acalmar os ânimos no desentendimento entre a sua Rádio Ecclesia (RE) e o patrocinador que é a União Europeia (UE), tem gerado controvérsia, claro para alguns e ambíguo para outros, com realce para os seus pontos dois e três.

Tudo começou quando em entrevista ao Jornal de Angola por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, 03/05, o padre Quintino Kandandji (QK) partiu para o contra-ataque. O prelado tem sido alvo de crítica generaliza por “matar” a vertente interventiva na linha editorial da RE (retirando da grelha programas tidos como críticos ao governo, despedindo jornalistas de referência em Luanda, ou liderando uma eventual censura a programas de organizações da sociedade civil com espaço de antena pago).


Kandandji encheu a boca para acusar organizações internacionais (alinhadas com angolanas) de tentarem impor agendas na linha editorial da rádio que dirige, visando uma hipotética desestabilização do governo angolano, a coberto da promoção dos direitos humanos. Garantiu ter devolvido 149 mil euros à UE, apoiado pelos Bispos da CEAST para que “não se vendesse”. Tais acusações apanharam meio-mundo desprevenido, pelo conteúdo e pela musculatura do tom, que só lembravam, para certos observadores, as intervenções de outra figura da igreja Católica, o cónego Apolónio.

No dia seguinte, a reacção da UE em comunicado qualificou de infundadas as acusações, pois, contrariamente ao que gabou o padre Kandandji, os aludidos 149 mil euros eram remanescentes de um projecto de fortalecimento da rádio e da voz das comunidades, proposta apresentada pela própria RE no âmbito de um concurso público de financiamento em 2011. E mais, que a devolução do valor é aguardada desde 2014.

A CEAST difundiu no sábado, 07/05, um comunicado de cinco pontos, também alvo de burburinho. Se no segundo ponto refere que as Direcções da RE (que defende a fé, a liberdade de imprensa, o pluralismo, os direitos humanos, a justiça e o patriotismo) vêem buscando parcerias, “embora algumas delas se tenham revelado menos adequadas ao perfil da linha editorial da rádio”, a leitura que se faz é a de alinhar com o padre. Mas já no ponto três, diz que na reunião de Março em Ndalatando, os bispos foram comunicados do remanescente a devolver à UE, só que “nunca foram informados nem menos alertados que tais financiamentos tinham como fins os anunciados pelo director da rádio”. O comunicado lamenta o aproveitamento político feito em torno do caso.

Se ao fim deste estardalhaço todo o director acaba sem o apoio dos patrões, vai renunciar ao cargo ou nem por isso? Pondo por hipótese “evidências” conspiratórias do financiamento, que tal devolver não só o remanescente, mas o valor integral? Algum plano para reparação por danos morais aos integrantes das anteriores direcções da RE? Sendo que o diferendo vai além da gestão administrativa da rádio, por ser propriedade da igreja Católica (também de matriz europeia), que mudanças estará a CEAST a ensaiar na sua organização interna, nas parcerias com o Estado angolano e doadores históricos, entre eles a UE? Enfim, o quadro é de mais perguntas que respostas.
Gociante Patissa, Benguela, 9 Maio 2016
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