quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Rubrica Crónicas do Metro | Diferentes (*)

Texto de Alexandra Sobral, Lisboa,
Portugal, 20 Fevereiro 2016 

As viagens de Metro são sempre um manancial para a observação e permitem pensamentos desgarrados sobre a natureza humana, que, até para quem os tem, esse tipo de pensamentos, no caso eu, não podem deixar de se qualificar como extravagantes. Hoje, para além da já habitual profusão de cidadãos que se adivinham de paragens tão diferentes, distantes e muitas delas de difícil determinação e denominação, havia uma rapariga com um cabelo comprido, imensamente comprido, tão comprido que sugeria tratar-se de Lady Godiva, estivéssemos nós no campo e a mesma cavalgasse o cavalo branco que a identifica. Mas o que era mais surpreendente, para além do tamanho do cabelo, era a cor do mesmo que oscilava entre o verde esmeralda e o azul lazuli, numa cor de difícil qualificação. A tez tão branca, que se diria transparente, fazia ressaltar ainda mais aquelas tonalidade e cor que lhe emolduravam a face. Uma pequena argola metálica, dourada, colocada na narina esquerda, quebrava, ainda que só aparentemente, a harmonia criada por aquele contraste. Apanhei-me a divagar se teria sido transportada para o reino dos Elfos pela mão de Gandalf, tal o fascínio que aquela visão me provocava. Mas a voz maviosa a lembrar-me Baixa-Chiado, fez-me perceber que não passava de mais uma manifestação destes tempos, que, tal como em todos os outros, todos queremos, de uma forma ou de outra, ser diferentes... na imensa e confrangedora mediania que se nos agarra à pele e não nos deixa distinguirmo-nos.
_____________ 
(*) O Blog Angodebates lança hoje a rubrica «Crónicas do Metro», com textos da nossa amiga Alexandra Sobral, advogada de profissão, que, utilizando um transporte colectivo em Portugal, põe o seu sentido de observação em acção. Resulta disso um trabalho individual que passa a valer (se não muito mais, pelo menos) o dobro, uma vez submetido ao exercício de tradução de emoções pela via da escrita e partilhado no espírito cosmopolita da comunicação e socialização. Originalmente publicadas no mural Facebook da autora, saem com o genérico Crónicas do Metro, sendo da responsabilidade do Angodebates o complemento dado ao título para facilitar a distinção entre uma e outra. Dá imenso gosto passear por Portugal à boleia destes breves apontamentos
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