domingo, 31 de janeiro de 2016

Desafio Ganda │A convite do amigo Banny di Castro, tive o privilégio de escalar a rocha do Atuki (aprox. 300 metros) para ver a piscina de águas naturais, também conhecida por lagoa do Atuki, situada bem no topo. O caminho é íngreme, exige o dobro dos pulmões, mas vale a pena visitar. É um rico pedaço turístico a clamar por investimento e maior divulgação.

 O primeiro passo para se chegar à serra. Haja estaleca
 Adrenalina ao rubro, para quem está de chinelos e se arrisca à picada de serpente
 Pormenor da piscina ou lagoa do Atuki, um importante fenómeno natural, que infelizmente corre o risco de ver o seu ecossistema enfraquecer, uma vez que os banhistas, embora poucos, conspurcam a nascente com lixo de vária ordem
 Uma selfie para a posteridade com o amigo Albano Sapondiya
 A piscina, também conhecida por lagoa do Atuki, faz a delícias dos miúdos e não só 
Na hora de descer da serra, a velhice usa as pernas para impôr um descanso
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sábado, 30 de janeiro de 2016

Crónica │Uma hotelaria em forma tentada

Pode-se dizer que a única forma com que me drogo, depois de largar a “chupeta” de cerveja há dois anos, é somar distâncias. Alguém diria: e amor não se faz? Então não conta? Conta, é certo, mas é noutra categoria, do que não pode ser contado, pelo menos não como droga, de tão elementar, fisiologicamente falando. Para ser droga, teria pois de ter outra opção. E neste quesito a humanidade ainda não achou concorrência à altura.

Pois, continuando. Os dias de ócio são uma tentação para fazer “reset” ao tempo de vida, viajando. E mais ainda nesta época de chuvas, de verdejantes paisagens… sabe tão bem sair por Angola dentro, enfim vestir a vida de razões para continuar por cá… Com a folga a calhar ao sábado, mochila feita para uma noite na sede do município da Ganda, aproximadamente 200 km de Benguela, onde resido. Na verdade eram duas mochilas, uma para o computador e acessórios da máquina fotográfica, outra para o uniforme de serviço, pois só uma directa me safaria da falta ao serviço no domingo.

Já às seis e meia da manhã se tinha ido embora o sono. Há quem lhe chame tensão pré-viagem. Asseguro apenas que não seria a primeira vez, talvez nem a última em iguais circunstâncias. Bom, escusado será falar da higiene matinal. A passagem pelo café faz-se rápido, mais umas águas e refrigerantes para a jornada. Ah, música? Bebe-se bem, obrigado, de preferência variada. O pote chama-se Pendrive MP3.

Toma conta de mim a estrada nacional 260 às oito da matina. Com alguns solavancos pelo meio, o bom dia Ganda é às dez e meia. Travão de mão. O Hotel é homónimo à vila. Não se fazem reservas em antecipação. Ao primeiro contacto, nenhuma alma ao balcão que parece ser a recepção, desculpa, não parece, é.

Sim, bom dia! Ah, bom dia. Vocês têm quartos disponíveis? Sim, solteiro dez mil, casal doze. Pela diária, mediana no padrão do sector, a expectativa é grande. Ok, queria ver os dois para poder escolher. O senhor quer dois quartos? Não, queria ter ideia das condições antes de optar. Está bem. MANA FULANA! DÁ AINDA A CHAVE! Pode vir. E ainda a meio dos degraus para o primeiro andar: como é a questão da energia? Mas aqui, a energia é mesmo geral. Vem às dezoito, vai às zero. Ah, sim? Então não há uma fonte alternativa? Tem o gerador, mas só ligam de manhã por uns minutos, que é para as pessoas tomarem banho. Neste caso, o dia todo é sem energia? É isso.

Faz-se escuro no corredor, enquanto não se abrem as portas da varanda dos quartos. É um escuro incompleto, valha-nos a verdade, não fosse o heroico papel da lanterna do telemóvel, algumas vezes apoiado entre os lábios. O hóspede, que por sorte ainda tem as mochilas por desfazer no porta-malas do carro, agradece a atenção e promete voltar dentro de instantes, para não sair mal na fotografia. Por acaso, o almoço come-se bem.

Até percebo que se esmerem para a hospedagem aproximar-se ao ambiente de casa. Só que talvez se tenha levado a originalidade ao excesso nisso de servir aos apagões. Por fim, temos um HG com nome, configuração e diária de hotel. Mas sem o básico pressuposto da era industrial, a electricidade… o exercício não passa de hotelaria em forma tentada.
Gociante Patissa. Ganda, 30 Janeiro 2016       www.angodebates.blogspot.com
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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

[Oficina] Conto | A conquista do mundo

Texto de Déborah Dornellas,
ecritora e tradutora brasileira
Para Clarice
A penugem anêmica, o bico minúsculo, as asas de nada. Quando era menina, Mirtes tinha loucura por pintos. Sempre que olhava para o serzinho ínfimo, ela se enternecia.
A paixão começou no dia em que a Tata começou a trazer pintos da feira, junto com as galinhas vivas. Às quartas, tinha sempre uma receita diferente: assada, frita, ao molho pardo, ensopada com batatas, no salpicão, na canja do jantar. Toda terça cedo, a Tata trazia uma bicha segurando pelos pés, de cabeça para baixo, e a guardava no tanque, amarrada à torneira, para matar e depenar depois. Mirtes ficava espiando de uma distância segura, na ponta dos pés, assustada e curiosa. Escutava o cró-có có e o bater inútil das asas, presas no quadrado de pedra. Chegava perto de jeito nenhum. 
Quando, no fim do dia, a Tata torcia e cortava o pescoço, depois jogava água fervente no corpo da galinha, para remover as penas, subia pelos azulejos azuis da cozinha um odor de morte. Fazia Mirtes engulhar. Ela nem abria mais a geladeira o resto do dia, para não dar com a ave morta, oca e sem cabeça, marinando dentro da bacia coberta com um plástico.
O primeiro pinto que a Tata trouxe quase enlouquece Mirtes de amor. Ela apertou tanto, acariciou tanto, carregou tanto o bichinho de um lado para o outro, que o pinto não resistiu dois dias. Amanheceu a quinta-feira morto na caixa de sapato. Mirtes chorou até domingo. Na segunda-feira, a Tata viu a Mirtes e pensou: essa criança vai morrer de tristeza. Então trouxe outro pintinho da feira, no dia seguinte. Mais amarelinho ainda. Mirtes, quando viu o pinto novo, deu um salto e agarrou o coitado de um golpe. Ficou o resto do dia brincando com ele. À noite, enquanto namorava o bicho acanhado no fundo da caixa, cismou que o pinto estava tremendo demais, e era de frio. Teve a ideia de desmontar uma luminária velha e fazer uma gambiarra, para improvisar uma estufa. Enfiou soquete, fio e lâmpada de 40 watts caixa de sapato adentro, rasgando um buraco feio. Colou a tampa com durex. Engenhoca inapropriada para um pinto já fora do ovo. Resultou que a caixa entrou em combustão de madrugada, e a ave amanheceu torrada. 
Com a ajuda da Tata, Mirtes enterrou o corpinho teso e escuro num canto do gramado, debaixo de um ipê roxo, na lateral do bloco B, perto do primeiro morto. Uma cruz para cada um.
A Tata, coração mole, ficou com dó da menina mais uma vez e trouxe o terceiro pinto. Esse chegou a botar corpo. Mirtes amava o bicho com loucura. Fez roupas, pôs laço de fita. Um belo dia, concluiu que tinha chegado a hora do banho, porque o pinto começou a cheirar mal. Preparou com muito esmero e higiene uma cumbuca com água morna, cortou um pedaço de sabonete Palmolive, arranjou uma bucha velha e pôs o bicho dentro do recipiente, inventando que era uma banheira para pintos. Banhou penugem, cabeça, bico, asinhas, pés, tudo. Com água e sabão. Não adiantou nada a Tata falar dez mil vezes que pinto não toma banho, Mirtes. O bicho se afogou. E Mirtes quase se afoga em lágrimas. 
Mais uma cruz no gramado. A cova do afogado era a maior.
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Crónica | Uma vénia ao repórter Carlos Marques

foto de autor desconhecido
Ao contrário da tendência que se assiste nas últimas duas décadas, a da consagração do jornalismo ou estrelato de cabine, a reportagem é o género jornalístico mais completo. Pelo menos assim diziam alguns manuais de jornalismo que andamos a devorar ainda na década de 1990 do século vinte. Então porquê?

Porque a reportagem carrega um pouco de crónica, outro pouco de notícia, mais outro pouco de análise, e mesmo opinião, onde o estilo do autor faz a diferença dentro da mesmice que seria a redacção de só dar resposta literal a «O quê, Onde, Quem, Quando, Como e Porquê». Repórteres há vários, incluindo os que a gíria jornalística em rádio e TV trata por “mudos”, convencionalmente afastados do microfone devido a debilidades na dicção, na articulação ou no domínio da língua de trabalho. Estes fazem a recolha e depositam o material na Redacção, cabendo ao editor indicar quem “põe a voz na peça”.

Como é de imaginar, é nas situações adversas que o verdadeiro profissional emerge. O estilo, o faro, o sentido de persuasão e a resiliência costumam ser determinantes na hora de arrancar da fonte aquela cirúrgica informação, parecer ou estado de alma, seja a propósito do facto do dia, seja uma radiografia social de determinado grupo, entre a interminável lista de motivos de cobertura.

Ontem, ao ouvir o noticiário vespertino da Rádio Lobito, vi-me obrigado a fazer uma vénia ao trabalho do repórter Carlos Marques (que não faz parte dos “mudos”), numa radiografia pelos bairros do subúrbio do Lobito, visando auscultar os moradores sobre a ausência (já se passou da condição de falhas) de energia.

A dado momento, surge um impasse. Dois interlocutores revelam-se agastados, não acreditam em mais nada, nem em ninguém. Já por lá tinham passado várias equipas, a da própria companhia eléctrica inclusive, mas nada de resolver o problema. Nestes casos, é sobre o repórter que o cidadão descarrega o rancor, o que exige um grande sentido de tacto para a necessária isenção e levar o interlocutor a falar para o microfone.

O ponto mais alto de toda a reportagem, a meu ver, dá-se na entrevista a uma anciã, voz trémula, aparentemente doente. A caminho da terceira pergunta, a anciã diz-se pouco confortável, talvez a cabeça a chatear. Instintivamente, o repórter flexibiliza o registo do diálogo, abandona a língua oficial e fala a língua materna da interlocutora, o Umbundu. Ela até já falava com o fôlego redobrado, discurso a fluir impecavelmente.

Mesmo sendo bilingue, um outro repórter desistiria, na mania das "finuras" e exclusão de classes que grassam na comunicação social, até porque a estação tem uma Editoria de Línguas Nacionais. O Marques, não. Fora da pauta, mostrou saber do valor profundo da língua na vivência do cidadão comum, entre a cultura e a sociolinguística.

Ora, uma vez ganha a confiança e vendo que o repórter se identificava com ela, vieram revelações marcantes sobre o modo de vida nos bairros emergentes, onde a energia falha, o combustível foge do alcance para alimentar o gerador, sem falar das pilhas que se esqueceram de alimentar a lanterna. O grande medo é que a noite dure para sempre.
Gociante Patissa, Benguela 29.01.2016
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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

[Oficina] Crónica | Quando o calar ilude

Texto de Felisberto Ndunduma
Sakutchatcha
Calar só por calar não basta quando a batata quente estiver na boca, pois sem querer ela tem de se abrir para lançar fora o prejudicial;

Somos coroados de acção e força para agir e nos tornarmos mais tarde donos dos nossos próprios actos, assim é a vida dentro de uma sociedade, meramente quando se envereda pela defesa da humanidade;

Existe momentos em que o discurso público muda para uma única folha, todos protestam, todos contendam, porque querem vencer;

Quanto mais se ignora o pequeno chilrear da criança, não tarda, um grande choro vem por detrás e não será pacífico, pois perturbará até o vizinho que ora não terá sono e será obrigado a agir contra nós;

Calar nunca basta quando as palavras existirem para actuar e tecer considerações que possam ajudar;

Nós muitas vezes pintamos o nosso rosto com a marca do silêncio, mas estejamos conscientes de que isto é uma traição fatal ao nosso desejo de ser e servir: A Pátria chama, a família quer de nós, por isso não há equívocos para oferecer a voz para grande intervenção;

A voz é sagrada e nunca deve ser poupada para coisas necessárias e também sagradas, pois, nada nos pode devolver a dignidade senão o uso das nossas próprias palavras desenhadas sob a lúcida arquitectura da nossa causa;

Não basta calar quando a razão nos obriga a falar, porque o calar ilude e não mostra ao lado oposto o nosso posicionamento actual.

Não se cale nunca em altura desnecessária; e não é pessimismo quando se admite popularmente que “quem cala consente” pois, muitas vezes somos condenados pelo nosso rugoso silêncio e que parecendo silencioso, afinal diz mais que as palavras, apesar de serem escondidas. Fale e mostre que entendes, cale e nada mostre, pois, a abstinência é perigosa e nunca se sabe o que soa dentro do calado.

Nota do Blog Angodebates: No ano em que completa o 10.º aniversário, o nosso Blog lançou um desafio de crescer junto com os seus leitores, abrindo para o efeito uma oficina para a divulgação de contos, crónicas e poesia de autores com ou sem livros. Como é natural, teremos colaboradores principiantes, pelo que lá onde for necessário, a gestão editorial do Blog fará ou sugerirá arranjo. O que esperamos é no futuro olhar para o primeiro texto de cada colaborador e festejarmos o progresso que for alcançando. 
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Nota solta | Quando o bom-senso prevalece ao lucro

Depois de várias voltas pelas lojas de principal referência na cidade do Lobito e outras por Benguela, sem sorte, à procura de um desses coletes clássicos de repórter, acabei visitando ontem uma loja benguelense de materiais de construção. Os coletes dão mesmo muito jeito em actividades de campo, já que podemos carregar nos bolsos o material de trabalho (gravadores, lentes/objectivas, blocos de apontamentos, etc.), dispensando bolsas. O meu primeiro colete, cinzento, tinha-o adquirido no balão de roupa usada da praça da Kaponte. O segundo, verde, era parte do uniforme de uma delegação governamental ao Brasil. O desgaste natural do tecido atirou-os para o museu afectivo. Posto na loja, finalmente encontrei o que queria a preço razoável. Comprei dois, sempre a pensar no suplente. Infelizmente, já em casa, notei que o colete castanho claro, o meu preferido, era demasiado largo (XL), só o caqui ficava bem (L). Hoje voltei à loja para trocar por outro de tamanho adequado, mas daquela cor já não havia. Assim, não me interessando dois coletes iguais, pedi devolução, antevendo já uma daquelas resistências a mwangolê dos longos anos do "não aceitamos devoluções" estampado na factura. Mas, não. O pessoal foi impecável e, em pouco menos de dez minutos, deixei a loja satisfeito. É um exemplo que serve de referência para aferir o impacto de instituições e leis de defesa do consumidor, bem como a maturidade social progressiva no exercício da cidadania. Assim, sim, senhor comerciante!

Gociante Patissa, Benguela, 28.01.16 www.angodebates.blogspot.com
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[Oficina] Crónica | Parcialidade ou Veracidade?

Texto de Joseckitas de
Messias. Benguela, 27/01/16
Até hoje não sei a que instituição pertence um ou outro dos dois substantivos acima mencionadas. E se uma das duas merece tal substantivo, é por um discurso parcial ou verosímil por parte da população angolana?

Questionei-me filosofando com o meu eu lírico, quando atonitamente uma Senhora tentava tirar uma resposta aos funcionários de uma escola primária (propositadamente não relato o nome) a seguinte pergunta: “Até uma matrícula para a iniciação é preciso um atestado médico? O país está mesmo a desenvolver”. “Infelizmente minha senhora, sem o atestado médico não se faz a matrícula!”, retorquiu o funcionário.

Convidaria alegremente o caro leitor a jubilar-se comigo, tentando satisfazer os apetites da lógica e da fundamentação convincente desta ceia de que muitos se servem diariamente, mesmo conscientes da desnutrição que ela causa aos nossos bolsos (ainda mais em tempo de contenção de gastos), e os nossos apetites intelectuais.

Não obstando a razão e a necessidade da existência de tal dossier, mas sim o processo de acesso ao documento em causa, mesmo a partir das Instituições autorizadas a ceder o mesmo, o processo de acesso é em termos mais luzentes “uma fachada”, pois a um documento de tal importância não se poderia ter acesso sem os devidos testes de saúde, que no caso é o mais relevante.

Em contrapartida, as Instituições que aceitam, ou seja, que exigem e recebem o dossier em causa, de tanta parcialidade ou verosimilitude, caso tais substantivos lhes caibam, não se importam com a verosimilitude saudável que o candidato apresenta, mas sim pela verosimilitude que o tal dossier de “fachada” apresenta, deixando vagamente a informação que até a um neófito em vida não deixa qualquer dúvida: um extremo embuste a existência de tal dossier perante a inserção numa actividade social e essencial para o cidadão (Escola).

Ainda eu aqui, sinto lamentavelmente a posição em que têm sido colocados os cristãos, que inconscientemente, provavelmente, têm sido obrigados a “desonestar” as suas honestidades perante a uma acção dessa: “infelizmente, minha senhora, sem o atestado médico não se faz a matrícula!”

Uma frase que, semanticamente, nos traduz uma péssima posição na fotografia do carácter necessário para um então desenvolvimento do nosso país: sem mentiras não se constrói uma nação, que aliás é uma tradução genérica e apetrechada de um indivíduo que há tempos se dedicava em destruir o seu próprio país com a frase “uma mentira quando é repetida muitas vezes pode se transformar em uma grande verdade”.

Portanto há aqui dois substantivos para cada uma das instituições: Parcialidade ou Veracidade. Mas uma realidade é certa: para tal atribuição adjectiva haverá uma grande dificuldade.

Nota do Blog Angodebates: No ano em que completa o 10.º aniversário, o nosso Blog lançou um desafio de crescer junto com os seus leitores, abrindo para o efeito uma oficina para a divulgação de contos, crónicas e poesia de autores com ou sem livros. Como é natural, teremos colaboradores principiantes, pelo que lá onde for necessário, a gestão editorial do Blog fará ou sugerirá arranjo. O que esperamos é no futuro olhar para o primeiro texto de cada colaborador e festejarmos o progresso que for alcançando. 
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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Da cor do nome

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A quem possa interessar | BLOG ANGODEBATES ABRE PORTAS A COLABORADORES

1. Justificação: Se você se dedica à escrita (por gosto, paixão, missão) e gostaria de dar a conhecer parte do que é capaz de fazer, a gestão editorial do Angodebates convida-lhe para um desafio de crescer juntos. Trata-se da colaboração em jeito de oficina para a publicação de textos de autores com ou sem obra no mercado, nos seguintes géneros: crónica, poesia e conto. O blog está com uma audiência semanal acima de 1500 páginas visitadas, sendo os principais países Angola, Portugal e Brasil.

2. Requisitos: Os textos deverão ser enviados para o e-mail patissagociante@yahoo.com, através do qual o autor receberá do editor (sempre que se justifique) a notificação sobre os arranjos de ordem linguística e de estética literária. Juntamente com a foto de perfil (opcional), cada autor poderá enviar pelo menos até dois textos por semana, não excedendo uma página A4 cada , Times New Roman, tamanho 12. Isso, porque uma das complexidades da blogosfera é não termos perfil exacto da nossa audiência. E certamente ainda mais do que em outros formatos, há o sentido de síntese, que é o recurso mais valioso da era digital. É quase um milagre ficar-se relativamente muito tempo preso à tela por um mesmo assunto. Pronto, é o tal lado mecânico que se tem de associar ao criativo.

3. Histórico: Surgiu com o endereço www.angodebates.blogspot.com o blog Angola Debates & ideias, em Agosto de 2006, denominação influenciada por um programa radiofónico semanal de mesa-redonda e debates sobre o exercício da cidadania e a saúde pública, que o autor realizava e conduzia através da Rádio Morena Comercial sob iniciativa da AJS, organização da sociedade civil angolana por si fundada, com sede no Lobito.

4. Ideais: O blog Angodebates, tal como o seu gestor editorial, não serve nem se serve da literatura para alimentar competições em busca de prestígio ou status quo. Acredita é que é pelo esforço na auto-superação e trabalho contínuo que cada um conquista o seu espaço. A divisa ainda é a mesma: "Humildade, Justiça e Solidariedade." Já em termos políticos, o Blog Angodebates coloca Angola acima de qualquer intenção político-partidária, pelo que o seu exercício da cidadania foca na união.
Era só isso. Obrigado.
Gociante Patissa. Benguela, 27 Janeiro 2016
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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

SOS

Alguém sabe dizer onde encontrar notícias e/ou informações como tal da/sobre Guiné Bissau a partir de um olhar interno? Os blogues que localizo são militantes e extremam-se, uns pró presidente, outro pró governo. Era só isso. Obrigado
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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O renascer da esperança | Reabilitação da via rápida Lobito-Catumbela arranca brevemente

A estrada alternativa que liga os mercados do Sa Pangele (município do Lobito) e Katombela (município da Catumbela), passando pela ligação do mercado da Kalumba com o Bairro da Luz, será reactivada dentro de um ano. Espera-se um trabalho de fundo consubstanciado na drenagem (com realce na zona do São João) e a aplicação do tapete asfáltico, o que ajudará a descongestionar o tráfego até agora afunilado na estrada nacional número cem. A informação foi tornada pública hoje (25/01) pelo governo da província de Benguela, através do administrador municipal do Lobito, Alberto Ngongo, que garantiu estar para breve o início da empreitada, sem no entanto precisar a data nem o orçamento.

A portuguesa Mota Engil é conhecida pela qualidade do trabalho nos troços Lobito-Benguela e Lubango-Namibe, mas a minha experiência de observador cidadão alerta que um ano parece pouco tempo para a complexidade da empreitada, num mercado em que os prazos acabam sempre sendo elásticos. Mas ainda assim, seria desastroso confiá-la a uma eventual empresa chinesa, pelo simples critério da rapidez na conclusão da obra em detrimento da resistência dos materiais e da sua durabilidade.

Depois da tentativa fracassada de reabilitação da via em 2007 pela BCOM, desta vez parece que é para valer, pelo que, enquanto antigo morador do Bairro Santa Cruz (o do estádio do Buraco, da Académica do Lobito), só podia ser enorme a alegria com que recebi a notícia, sendo a minha mais uma das vozes que ao longo deste tempo vêem fazendo pressão pelo troço, como cidadão e obreiro literário, como atestam os trechos que se seguem, da crónica de fim de ano:

"Dediquei-me ontem a mais um exercício de reencontro com o meu passado que, para quem não passa da casa dos trinta anos, só pode ser recente. Escolhi radiografar a via alternativa à estrada nacional número cem, aquele troço que vai da Catumbela à Kalumba. Só poeira e sacudidelas. Nada mais lembra o asfalto do tempo colonial, nem a hibernada promessa da sua reabilitação há quase uma década. Mas conduzir ali, olhando pelo outro lado da moeda, a par do suplício de ver o carro envelhecer vários anos por minuto, tem o seu lado altruísta: dá de comer o mecânico e o vendedor de peças. 
(...)
A condução faz-se devagarinho, muito abaixo dos medianos 30 km/h actuais, num troço de 6 Km que frequentei durante seis anos lectivos a pé. Já agora, usando do direito do escritor ao egocentrismo, depois de ouvir um veterano reivindicar investimento a uma aldeia, por ter sido ali circuncidado… peço atenção a esse troço pelo seu contributo na história sócio-económica da província de Benguela."
Gociante Patissa, 25 Janeiro 2016
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domingo, 24 de janeiro de 2016

Citação

"Eu não gosto muito de dissociar a questão da Eclésia especificamente da questão das outras rádios que o país tem. São todas rádios. A LAC pode transmitir para o país todo? A Rádio Mais pode? As outras rádios privadas podem legalmente fazer aquilo que a Rádio Eclésia pretende fazer? A questão é de base legal.
(...)
A minha questão não é se a reivindicação é injusta ou não. O que acho injusto é que se desloca a questão da Rádio Eclésia de um contexto que é mais abrangente. Há outras rádios privadas e sujeitas à mesma lei. Eu tenho manifestado esta opinião muito frequentemente e, sei que é uma opinião que gera sempre polémica. A única coisa que não entendo, é porquê isolar a questão da Eclésia? Acho que a Rádio Eclésia estará no seu direito, mas também estará a LAC, a Rádio Mais e todas as estações nas mesmas condições. Acho que estarão no seu direito todas as rádios impedidas por lei de fazer a mesma coisa que a Rádio Eclésia quer fazer. Mesmo porque, quanto à questão do alargamento do sinal haverá muitas formas legais de o fazer." - (Paula Simons, jornalista, gestora de comunicação social e política angolana. In Jornal O País, 01/01/2016. Luanda. Grande entrevista disponível na Internet)
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sábado, 23 de janeiro de 2016

Trecho da crónica de José Kaliengue | SENHOR POLÍCIA ME LEVA SÓ

Íamos a entrar no carro quando nos apercebemos de uma discussão, era uma moça já ajeitada de copos a discutir com um moço também já ajeitadinho, estavam mesmo ao lado de uns kupapatas. Ela porque me chamaste aquele nome feio. E ele porque queres o quê? Vou-te dar. Aparece um amigo dele que tenta apaziguar. O rapaz ajeitadinho cresce, é homem. Vou-te dar, e sai um estalo na rapariga. Atrás dele pára um carro da Polícia. E o ajeitadinho ao amigo apaziguador que queria explicar as coisas: “me deixa ir só, já paguei a mota. Deixa-me ir, olha a minha imagem. E depois, “senhor polícia me leva só, olha a minha imagem, por favor”. A ele passou a bebedeira, a ela subiram as razões. Entramos no carro, andamos o Huambo… nem alma viva, aqui apagam as luzes quando dormem, e o frio lá fora. (In Jornal O País, 19/01/2016. Luanda. Texto completo disponível na Internet)
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Alguém dizia que o profissional é aquele que faz da técnica a sua segunda natureza

As palmas hoje vão para o amigo Wilson Palma, operador de câmara da TPA Benguela, que espero não me ponha um processo judicial em cima por "traição", já que o combinado era simular e não fotografá-lo como tal enquanto ele gravava uma entrevista a mim feita sobre fotografia. Um abraço e bom fim-de-semana
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Algures em ti

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Utilidade pública | Prémio Literário UCCLA «Novos Talentos, Novas Obras Em Língua Portuguesa» Alarga Prazo De Candidaturas

As candidaturas ao Prémio Literário UCCLA «Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa» - cuja apresentação teve lugar no 7 de julho de 2015, em Lisboa - foram alargadas até ao dia 31 de Março de 2016.

O Prémio Literário UCCLA - iniciativa conjunta da UCCLA, Movimento 2014 e Editora A Bela e o Monstro, tem como objetivo estimular a produção de obras literárias, nos domínios da prosa de ficção (romance, novela e conto) e da poesia, em língua portuguesa, por novos talentos escritores.

A Obra deverá ser apresentada em ficheiro de formato Word, com o tipo de letra Times New Roman, tamanho 12, espaçamento 1,5 e a página deverá ser formatada de modo a que as margens superiores e inferiores apresentem 2,5 centímetros, a margem esquerda apresente 4 centímetros e a margem direita apresente 3 centímetros, não excedendo as 400 (quatrocentas) páginas. 4. Apenas poderão candidatar-se ao presente Prémio Obras redigidas em língua portuguesa, que não hajam sido editadas e às quais não haja sido atribuído anteriormente qualquer prémio.

O júri é constituído por António Carlos Secchin (Brasil), Germano de Almeida (Cabo Verde), Inocência Mata (São Tomé e Príncipe), Isabel de Lima (Portugal), José Luís Mendonça (Angola), José Pires Laranjeira e José Augusto Bernardes (Portugal).

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Utilidade pública | Uma dúvida que pode se de muitos

Nota: coincidência ou não, ontem, algumas horas depois de uma entrevista na rádio sobre a actividade de escrita, tive uma correspondência com um amigo virtual. Na rádio falou-se também da velha questão de potenciais autores que lamentam uma alegada falta de abertura da parte dos já publicados (que mais não costuma ser do que fruto de incompreensão geracional, entre a impaciência de uns que priorizam o encontro com o escritor, ao invés de o localizar pela obra, e do outro lado a falta de tempo de quem tem também responsabilidades com a família, com o emprego e com o próprio trabalho eterno de ler e escrever, não podendo por isso ler todo o projecto de livro que surgir na cidade em que reside ou arredores). A dúvida do amigo virtual veio num sentido diferente. Estou consciente da inconfidência, mas ao mesmo tempo é uma dúvida que poderá ser de outras almas mais, pelo que minimizarei o "prejuízo" ocultando o nome dele:

ELE: Olá amigo Patissa, saudações. Preciso que me ajudes no seguinte: Não sou escritor mas gosto de escrever, ja o faço a alguns anitos e gostaria de poder partilhar com o "mundo" um pouco dos meus apontamentos. Entretanto qual é o 1º passo que deva dar?”

EU: Boa noite, amigo (nome propositadamente ocultado). O passo importante é ler autores da linha que estás ou queres seguir. Isso permite ter ideia de como os outros fazem e ver até que ponto se está ou não a ir bem. Permite ainda enriquecer o dicionário mental. Depois de reforçada a auto-confiança e caçados os erros ortográficos, então partilha-se, através de jornal, Facebook ou rede de amigos. Feliz noite

Ele: Obrigado mesmo. Boa noite
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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Citação

Assim como o camponês aprende a trabalhar a terra, o poeta aprende a trabalhar com a palavra, aprende a não dizer demais e a não dizer de menos, aprende a sugerir. A poesia não deve fazer mais que sugerir; ela é um compromisso entre a palavra e o silêncio, não o silêncio de quem não tem nada para dizer, mas o silêncio que é o sumo de muita coisa. Então o poeta traduz. Ele é uma boca, e deve ser a boca daqueles que não têm boca (Arlindo  Barbeitos. Angola, angolê, angolema. Luanda: Maianga, 2004: 8.)
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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Nota solta | Não vejo razões para o redundante registo obrigatório de telemóveis que nunca foram anónimos

Para quem usa o mesmo número desde 2003, há treze anos portanto, com umas três requisições de segunda via pelo meio, mas mantendo sempre o telemóvel registado em nome próprio, é inevitável o desagrado em função desta medida do instituto de telecomunicações (INACOM) que obriga o utente a ir outra vez aos balcões das operadoras para efectuar o registo, sob ameaça de ver o número bloqueado. É o que se pode considerar um dar a face para a segunda bofetada, tendo em conta a já desfavorável posição em relação à falta de transparência no gasto dos UTT e outras chatices próprias de contratos de adesão. Que obrigassem àqueles que obtiveram o chip na rua, entendia-se. Agora, tratar todos pela bitola do utente marginal, é que chega a ser insultuoso ou perto disso. E lá vamos nós com o coitado do Bilhete de Identidade para garantir o dinheiro do vendedor de papel e tinta da fotocopiadora, sem falar das longas filas para ser atendido. Nem nos EUA, Namíbia, Israel, ou Inglaterra se desconfia tanto dos cidadãos. Conhecendo o país que temos, esta situação das enchentes nas lojas é passível de criar oportunidades para o suborno. Enfim..
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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Nota solta | Não basta ser livro para se chamar obra literária

a imagem não tem relação com a notícia da TPA
"Comunicação e Marketing é o título da primeira obra literária do escritor fulano de tal, a ser lançada brevemente no CEFOJOR", abria assim uma notícia da TPA ontem à noite. E lá aparecia o autor a confirmar que se tratava de facto de obra literária, que ia já na sua segunda edição. Escritor? Obra literária? Ou seria, antes, um ensaio e/ou tese de um académico (cientista) no ramo das ciências da comunicação, já que o material tem um compromisso objectivo com a verdade? Neste caso, através do seu editor, a TPA (que não está sozinha nesta confusão) reproduzia a visão errónea de que todo o livro é uma "obra literária", mesmo se a sua natureza e conteúdo são "não literários".

Ora para ser obra literária teria de apresentar características como a variabilidade, a complexidade, a conotação, a multissignificação e a liberdade de criação, como se pode conferir aqui. Embora inicialmente literatura adviesse do latim "littera" (letra), há já muitos séculos que, a meu ver, a academia implementou a categorização da natureza dos textos, talvez como forma de melhor estudar e estabelecer indicadores de responsabilização dos autores, não podendo avaliar pela mesma medida o ramo que tem compromisso objectivo com a verdade dos factos e fenómenos (ciência) e o outro que assenta no olhar artístico do obreiro comprometido com a recriação do mundo (belas artes).

Mesmo a nível da teoria da literatura, pode-se, até onde entendo, escrever livros de ensaios, recenções críticas e resumos (textos académicos, portanto de característica não literária, que fazem do autor um ensaísta, não escritor) sobre livros de poesia, crónica, romance, contos, novela, dramaturgia (escrita criativa, portanto textos literários).

Participei há dias numa mesa-redonda radiofónica que tratou do papel da literatura na sociedade. A dado momento, quando questionado sobre os hábitos de leitura e acesso ao livro, e movido pelo princípio de que o conhecimento adquire-se e se partilha, vi a necessidade de separar a forma de ver o livro na nossa sociedade, entre o académico e o literário. Acabou sendo, infelizmente, o ponto que mais consumiu tempo e intervenções de ouvintes, apanhados talvez desprevenidos.

A título de exemplo, levantei que o prémio mundialmente mais vendido, o Prémio Nobel, tem uma categoria de literatura, que é atribuído a escritores, aqueles que fazem da matéria literária o barro da sua obra, se me permitem a figuração, aqueles que pelo olhar artístico procuram recriar o mundo. Não é o livro de auto-ajuda, ou de opiniões, ou de metodologias de ensino, ou de memórias que se torna elegível, mas o de literatura, o ficcionado. Não se trata de excluir ninguém, mas tão-somente evitar que se confunda formato com conteúdo. Não basta ser livro para ser obra literária.

Sobre o assunto, tenho a gravação de uma edição completa do programa "Tendências e Debates", da RNA, onde os escritores António Fonseca e José Luís Mendonça procuravam contribuir para a clarificação disso mesmo. Quem parecia ofendida ao longo do debate é a psicóloga Maria da Encarnação Pimenta (notável autora de livros sobre a compreensão de fenómenos comportamentais na sociedade angolana), pois alguns sectores costumam tratá-la por escritora, quando na verdade o seu contributo é como cientista social.

No site Recanto das Letras, este artigo sobre os elementos da obra literária foca no conteúdo e na forma. Vale a pena ler. Vale ainda conferir este artigo que nos dá conta de que um elemento central para a obra literária é a narração de um fato, evento, série de eventos, sentimentos, ideias ou simplesmente uma expressão artística sobre diferentes situações

Então, fica a fórmula básica: todo o livro é obra literária? Não! Obra literária implica linguagem literária, escrita criativa, visão a tender para a arte. Se Agostinho Neto lançasse livros sobre, por exemplo, como melhor aplicar a penicilina ou combater a malária, ele não seria escritor. Seria, sim, um médico que, no papel de pesquisador ou investigador, apresentava o seu contributo científico (não obra literária).
Gociante Patissa. Benguela, 18.01.2016
www.angodebates.blogspot.com
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Utilidade pública | TamodaEditora foi reactivada

«Se escreve e tem dificuldades em publicar, a solução está próxima. Depois de publicar o livro, Manongo-Nongo, recebi a notícia sobre a reactivação da TamodaEditora que se propõe funcionar também como "oficina" para os mais jovens literatos. - A qualidade para nós será um marco a atingir mediante negociação e trabalho conjunto entre o autor e a editora, garantiu o proprietário da Tamodaeditora.» Os interessados podem deixar mensagens no post original do mural do escritor e jornalista (e mais alguma coisa) Soberano Luciano Canhanga»
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domingo, 17 de janeiro de 2016

(arquivo) Opinião | A EDUCAÇÃO COMO COMÉRCIO E A IDEIA DE LAICIDADE

Conversávamos recentemente sobre o quadro actual dos agentes envolvidos no sector da educação em Angola, sobretudo nos últimos onze anos. E foi com alguma apreensão que abordamos o efeito inverso que pode vir a ter no futuro a entrada em cena, para não dizer proliferação, de cada vez mais colégios e igrejas.

O meu interlocutor e eu conhecemos minimamente o sector da educação formal. Enquanto representantes de organizações da sociedade civil até há pouco menos de seis anos, andamos envolvidos em advocacia social pela gratuitidade e obrigatoriedade do ensino público primário, conforme a Lei (13/01) de Bases do Sistema de Educação em vigor. A então “Coligação ensino Gratuito, Já!” teve como pano de fundo a melhoria da qualidade e o alcance das metas de Dakar de educação para todos até 2015.

Quanto a Dakar, têem razão de ser os argumentos optimistas de doutores estrategas da Reforma Educativa, por sua vez apologista da aceleração escolar para completar os indicadores relativos às taxas de aprovação. Os doutores acham que é assim mesmo o desenvolvimento, mas pelo contrário, nós, os leigos, não podemos fingir que não andamos preocupados com o que se assiste em prejuízo da competência, havendo estudantes universitários que chegam a especializar-se em linguística sem saber sequer a diferença entre o predicado e o complemento no contexto de uma oração.
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Citação

“O escritor escreve tentando recompor, quem sabe, um mundo perdido; os amores perdidos; a casa… perdida; o paraíso perdido, e esse paraíso perdido está na infância.” - (Lygia Fagundes Telles, escritora e procuradora reformada brasileira. In programa Roda viva, TV Cultura, Brasil, sem ano de emissão, disponível no Youtube)
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Não deixe de ler o texto completo do escritor Luís Fernando | APRESENTAÇÃO DO LIVRO DE CRÓNICAS «O APITO QUE NÃO SE OUVIU»

Um livro pode ser apresentado de mil maneiras diferentes. Na escolha de uma de entre essas mil maneiras diferentes existe uma espécie de poder soberano do apresentador, que se torna dono e senhor, por momentos, de algo que não fez, que não produziu, que não criou, mas ao qual se associou na ponta final.

Se os poetas, os romancistas, os cronistas, enfim, os escritores genericamente falando, não fôssemos essa fauna de absolutos geradores de emoções e tecedores incansáveis de laços de agregação e união, poderíamos ter casos em que um apresentador desanca sobre o dono da obra, ou seja, aquele que queimou neurónios, extremou os limites da paciência e enfrentou o bom e o mau das insónias das madrugadas, para dar à Humanidade um presente sob a forma de livro.

Nunca o fazemos pelas inúmeras razões associadas ao difícil processo que vai da génese da ideia à fixação da letra impressa sobre o papel em branco. É uma gravidez seguida de parto e este longo e intrincado percurso impele-nos ao respeito e à valorização inevitável do esforço alheio.

Ou seja, ainda que um livro fosse um soberbo fracasso criativo – que os há, evidentemente, e tê-los-emos sempre enquanto as voltas em redor do Sol não pararem – ainda que um livro fosse um soberbo fracasso (dizia), uma invencível generosidade presente na alma de todos e cada um de nós, impediria de desfazer à pedrada e aos pontapés o trabalho que outro pregador de ideias escritas andou a fazer.

Portanto, deixo claro logo de início, que não me ouvirão maltratar a acção e o labor de longas horas subentendidos no produto que o Gociante Patissa oferece aos angolanos que lêem neste sábado de uma Benguela invadida até às cavernas por forasteiros de toda a índole.

E nada disso acontecerá não pelo tal ditame aludido sobre o “politicamente correcto” das palavras que se devem dizer nos actos de apresentação dos livros que se escrevem, mas por uma razão diametralmente oposta: este livro é um portento, é um pequeno-grande tesouro, é filigrana de luxo montada com palavras muito finas e pequeninas, desenhadas sem pressa nem ansiedade, à procura de um espaço de glorificação da Literatura como arte de requintada elevação e nobreza.

Tenho de vos confessar que me deu imenso prazer deslizar da primeira página até à número 97, a última, e são ainda muitas as imagens que guerreiam entre si na minha cabeça, desejosas todas elas de palco, de um direito disputado ao milímetro, para serem as mais presentes.

Um livro de crónicas tem, felizmente, esse condão. Porque se monta com relatos que representam cada um deles um momento específico – um episódio, uma evocação, uma viagem, uma experiência, uma dor, uma celebração, uma piada…- torna-se fácil ao leitor armar no seu imaginário réplicas a papel químico ou mil milhas distanciadas daquilo que o autor criou, com as palavras que escolheu e as emoções que selecionou.
       
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sábado, 16 de janeiro de 2016

Citação

“A pátria não são as bandeiras, nem hinos, mas um punhado de lugares e pessoas que povoam nossas lembranças e as tingem de melancolia” – Mário Vargas LLosa, no discurso de aceitação do Prémio Nobel da Literatura 2010.
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sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Utilidade pública | Sobre candidaturas à bolsa Ler Angola 2016

Em função de muitas e repetidas solicitações que me chegam de amigos interessados em ver publicados seus projectos de livro (vertente literária ou escrita criativa), tendo como base o facto de eu fazer parte dos «novos autores» publicados na edição 2014, através do livro de contos «Fátussengóla, O Homem do Rádio Que Espalhava Dúvidas», pois aqui vai:

a) Fiquei a saber que as inscrições para a Bolsa Ler Angola 2016 já estão abertas. É possível (re)enviar para os e-mails dijumartins@gmail.com e para geral@lerangola.com
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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Citção

"A música é, quanto a mim, um veículo de transmissão de conhecimentos e de cultura" (Filipe Mukenga, músico e compositor angolano. In Hora Quente, TPA2, 13.01.2016)
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quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Nota solta | Bons exemplos de maus exemplos

Independentemente do que os fiéis da Igreja genericamente conhecida como Os Tocoístas digam em defesa do seu (megalómano) líder... estas imagens (de autor desconhecido) traduzem o jeito com que certa vez um ancião da minha família resumiu a degeneração do ideal das independências africanas (racismo à parte): «O PRETO CORREU COM O BRANCO PARA VIRAR BRANCO DO IRMÃO DELE». Argumentar que, ao ser transportado como na era da escravatura, o bispo só respeitou a tradição de uma comunidade de Cabinda em receber ilustres visitantes, não cola. E vale a réplica de um internauta: «E se a tradição lá mandasse decapitar mulheres, o cidadão Afonso Nunes (que se auto-intitula encarnação do profeta fundador, Simão Toco) também respeitaria? Triste sina a nossa, como se já não bastasse a extravagância dos milagreiros brasileiros...
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terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Nota Solta | Um registo coloquial que só descamba

Assim só de passagem, fica aqui o meu "enjoo" pelo seguidismo e modismo e também sexismo reinantes (ainda por cima rascas) na composição musical e, de um modo geral, nos programas de entretenimento (media). Excelências, se é que ainda não deram conta disso, já usaram demais expressões como "me escangalha"; "todos os molhos"; "diva" disto e daquilo; "apagar o lume"; "swagger"; "tira-mete-puxa-lhe dá"; "gostosa/o"... entre outras. E é escusado questionar a razão de tal uso: é o que vende, é o que as produtoras recomendam. Quanto mais banal e repetitivo, mais familiar se julga que vai soar. Ironicamente, quando vemos/ouvimos/lemos notícias de violência doméstica, que é em parte a tradução do tão festejado "escangalhamento", não tarda a repulsa da mesma sociedade. Será o público destinatário da mensagem tão estúpido que não possa receber conteúdos um pouco menos "gastos"? E o pior é que quando se quer variar, recorre-se, invariavelmente, à reinterpretação de temas antigos. Por muito boas que possam ser as intenções, este populismo é de um registo coloquial cada vez mais a descambar. E isso é que, literalmente, escangalha a esperança de gerar uma mentalidade mais higiénica como legado.
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segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Diário | Ai, palavra de homem não conta?

“Excelência Investigador, eu sou aquele que ontem veio buscar notificação.”
“POIS CLARO! ENTREM!”
“Trouxe já o burlador…”
“SENTEM-SE. O QUEIXOSO TEM A PALAVRA!”
“Excelência Investigador, o que o outro me fez… se até aqui ainda não cometi, é mesmo já graças À tal educação de ignorante que temos. É que eu sou muito ignorante. Porque se a pessoa não ignora as provocações e falta de respeito, qualquer dia comete um homicídio…”
“VÁ DIRECTO AO ASSUNTO, CAMARADA, NÃO HÁ TEMPO A PERDER!”
“Então o outro me adeve dinheiro e, na hora de pagar, não quer pagar os juros?!”
“É só porque o outro não quer entender a outra parte. Quando recebi um e meio, era para o tratamento da tua cunhada na Namíbia…”
“UM E MEIO QUÊ?”
“Mil e quinhentos Dólares, chefe! Era para dar juros de quinhentos Dólares. Como o crédito estava a atrasar, então fui fiar um e meio para pagar dois. Só que depois com a crise complicou…”
“Mas quando fiaste, não estávamos sentados só os dois, aqui eu e aqui você? Havia uma terceira cadeira para a crise sentar?! Eu só mudo de posição na cama, na boca não, ouviu?”
“EXPLIQUEM-SE MELHOR!”
“Chefe, naquele tempo, mil dólares era cem mil Kwanzas. Só que o crédito bancário de 500 mil Kwanzas demorou muito. Agora que saiu, ainda assim graças a um filho alheio, de boa-fé, que só pediu gasosa dele de dez por cento. Hoje em dia, no banco, para te dar crédito, é rezar. A nota que era dez mil, agora na rua comprar está 30 mil. Com a crise, chefe, 1500 dólares no câmbio da rua ficou por 450 mil Kwanzas. Por isso pedi para o outro receber só o dinheiro dele, o juro, palavra de honra, não consigo pagar.”
“Mas tem contrato assinado?”
“Não, excelência Investigador. Foi tudo bocal…”
“Queres dizer verbal?”
“É isso, excelência. Foi tudo verbalizado bocalmente.”
“Falar que vou pagar juros, chefe, estou a mentir. No banco vão-me descontar cinco anos. Ainda tenho renda de casa. Propina das crianças. Era só o outro entender…”
"POR ACASO, PAGAR A DÍVIDA FICOU-TE PELO TRIPLO..."
“Você vai falar isso ao lado da pessoa de sua Excelência o Investigador?! Assim já queres chegar aonde? Excelência, me dá só ainda licença – tufas! tufas! – tufas! Te dei! Bem dado! Agora refila mais!”
“MAS QUEM É QUE O CAMARADA PENSA QUE É PARA AGREDIR ALGUÉM NO MEU GABINETE?”
“Eu tenho sistema nervoso, chefe. Já fui ignorante demais. Ignorei muito a provocação dele. Agora não aturei… Dei duas bofetadas e um pontapé. O chefe não vê como ele não reagiu? É porque sabe que errou. Ou não é assim?”
“OFICIAL-DIA! RECOLHE-ME ESTE DETIDO PARA A CELA!!!”
“Detido em cima do meu dinheiro?”
“VOCÊ TEM ALVARÁ PARA CONVERSÃO DE MOEDA E CRÉDITO?”
“Excelência! Ele e eu se apertamos a mão. Ai, palavra de homem não conta?”
Gociante Patissa. Lubango, 10 Janeiro 2016
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A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

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