sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Nota de Imprensa - Poetas angolanos em Vila Nova de Famalicão

J. Maimona (foto: Jornal Cultura)
A. Paxe (foto de autor
desconhecido)
Os poetas João Maimona e Abreu Paxe participam, nos dias 30 de Novembro e 1 de Dezembro de 2012, de RAIS POÈTICAS, a convite da Presidência da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão que o organiza.
Sob a Curadoria de Luís Filipe Serguilha, Jorge Velhote e a ter lugar na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco em V N de Famalicão, RAIAS POÈTICAS – Afluentes Ibero-Afro-Americanos de arte e pensamento é um encontro de poetas, artistas e professores que surge como agente potencializador da criatividade artística, do pensamento como experiência dançante, da interrelacionalidade, da sismologia das sensações, das mutabilidades, das correntezas transfronteiriças das línguas poéticas Ibero-Afro-Americanas e dos movimentos giratórios da interrogação estética.

RAIAS POÈTICAS surge também como elemento de aproximação da diversidade das resistências vivas das geografias do Nomadismo, das intensidades migratórias e das heterogeneidades dos fluxos cortantes; outro eixo de vocação de RAIAS POÈTICAS consiste também em projetar as multiplicidades, a profusão das diferenças, os segmentos dos entre cruzamentos, criando uma zona de vozes singulares, vozes-devires.

Abreu Paxe, poeta, ensaísta e docente universitário, é autor de “A Chave no Repouso da Porta (Poesia, 2003)” prémio literário António Jacinto em 2003 e “O Vento Fede de Luz (Poesia, 2007)”.
João Maimona, poeta ensaísta e dramaturgo com obra considerável é prémio literário Sagrada Esperança por duas ocasiões com as obras “Trajectória Obliteradas (Poesia, 1984) e Idade das Palavras (Poesia, 1996)” É detentor da Medalha de Bronze do Concurso Internacional de Poesia, organizado pela Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, 1987.

João Maimona e Abreu Paxe, Curadores da Bienal Internacional de Poesia de Luanda, juntam-se, neste evento, a Poetas, Artistas e Professores de Portugal, Brasil, Moçambique e Espanha, marcando presença em Dobras de Pensamento “mesas-redondas” e Raias Sonoras “Leituras de Poesia”.
Share:

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Opinião: Uso obrigatório de capacete, é por aí que devíamos atacar?

Em 2008, um oficial da Polícia de Viação e Trânsito disse durante,
um debate por mim moderado, que "quatro em cada 
10 acidentes
 envolvem um kupapata (taxi motorizada)

Acompanho e apoio o compromisso das autoridades no combate à sinistralidade rodoviária. Já quanto às estratégias para se lá chegar, sinto-me no direito de questionar a pertinência destas quando a consciência assim o manda.

Resido na cidade de Benguela, que é das que registam em maior escala o serviço de mototáxi, vulgarmente conhecido como “kupapata” (motorizadas de marca Delop, 50 cmᵌ). E como observador, acrescento que a estrada que leva ao meu bairro é das que mais acidentes registam, acabando em perda de vidas humanas, quase que mensalmente. Refiro-me ao perímetro que vai do CRM ao aeroporto 17 de Setembro.

Relançada a campanha “Use o Capacete”, vimos acompanhando pela imprensa pronunciamentos de oficiais da Polícia Nacional alertando para breve o reforço de medidas coercivas. É bom lembrar que a mais recente polémica sobre a obrigatoriedade do uso do capacete, não apenas pelo condutor, mas também pelo cliente, data de 2008. A caminho de cinco anos, a questão que se impõe é: que há de diferente na aplicação de tal medida desta vez e que faltou em ocasiões anteriores?

Como automobilista, digo que não é a falta de capacete o problema principal. Longe de minimizar a importância daquele equipamento de protecção individual, realcemos, todavia, que há uma sequência de erros e lacunas que levam ao acidente. O que pretendemos proteger com o capacete é a vida, é certo, mas até chegarmos a esse ponto, já uma cadeia de conhecimentos, conduta e questões de comunicação foi quebrada.

Os “nossos” kupapatas, via de regra, desconhecem a noção de eixo da via. Sobre a rotunda, ocupam a faixa de dentro, quando desejam seguir adiante, logo a seguir mudam de faixa, sem considerar os sinais luminosos; andam cada vez mais fora de mão, por vezes desrespeitando o semáforo; retiram os retrovisores de suas morotizadas, o que os coloca em risco, pois calculam mal nas ultrapassagens o espaço entre veículos em movimento; não priorizam os travões, mesmo dentro das localidades, protegidos que se julgam pelo abuso das buzinas. Resumindo, os “nossos” kupapatas dão poucas garantias de dominarem noções elementares do código de estrada. Comprada a motorizada, basta-lhes saber que o polícia é azul e que a estrada é preta, creio.

Compreendo a necessidade que a Polícia Nacional e o governo de modo mais alargado sentem no sentido de controlar a situação. Mas penso que outras abordagens devem caminhar ao lado destas medidas coercivas, sob pena de continuarem sem efeito.

Como é feita a atribuição de licenças de condução? O que faz a Amotrang (que podia promover sessões de capacitação dos seus membros, enquanto interlocutora perante o governo)? Como será feita essa apreensão, tendo em conta a propensão que o kupapata tem de esquivar o polícia de trânsito? E para os outros, filhos de gente endinheirada, que vivem de “rachas”, “chutos” e “colagens”, haverá brigada especial?

Julgo que a sinistralidade rodoviária é reflexo da fraca moralidade social que assola o país, onde o desconhecimento e negligência andam abraçados. Há que reforçar, não só a prevenção e a punição, mas também o aprimoramento dos mecanismos de capacitação.

Gociante Patissa, Benguela, 28.11.12
Share:

Opinião: "Deixem o Celso em paz" – Raul Danda

Texto e foto: Club-k - Estava aqui a pensar na acção que a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) estará a mover contra o nosso amigo Celso Malavoloneke, e resolvi emitir aqui a minha opinião. Eu revejo-me nas preocupações/perguntas que o Celso levanta por julgar que têm toda a legitimidade e toda a razão de ser. Peço desde já perdão a todos os irmãos (em Cristo e de Pátria) ligados à IURD, mas eu próprio tenho pensado seriamente se escrevo alguma coisa sobre essa igreja. 

Desde logo, se concordamos que quem faz milagres é Deus e não os homens, em definitivo, porque razão a IURD cobra esses "milagres" que ali ocorrem? Vou "postar" aqui um pequeno episódio. 


Um camarada meu, cujo nome não vou obviamente aqui revelar, fervoroso "militante" da IURD, solteiro, apaixonou-se por uma "irmã" da mesma Igreja. A relação foi comunicada às instâncias "dirigentes" da IURD que, mesmo sabendo que a menina era seropositiva, nada disse ao meu camarada. 

Share:

Nem ao portão

A chuva, que muito adoro, não cessa. O bairro, quando não faz pó, faz lama. O carro, o caminho mais prático para cumprir metas e horários, não cresce. Moral da história: gostar da chuva, sem sobrenome que caiba num jeep, não leva nada, nem ao portão.
Share:

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Texto que levou a IURD a processar Celso Malavoloneke e o Semanário Angolense

Nota do Blogue Angodebates: Enquanto
 se aguarda pela nova data para o julgamento,
depois de ter falhado a  primeira por doença do
juiz, o Angodebates e o seu editor juntam-se à
repulsa, não apenas contra os excessos da IURD,
mas de todos os que praticam mercantilismo em
nome de Deus, à custa da fragilidade identitária
e cultural de gente arrastada pelo "milagre" que
parece precisar de sotaque brasileiro para
existir.  Talvez acabemos todos com processo
judicial, mas chega! Acorda, ó minhaAngola!
Texto e foto: Club-k

Na seqüência da perseguição judicial que a IURD - Igreja Universal do Reino de Deus moveu contra o jornalista e docente  Universitário Celso Malavoloneke, este portal,  retoma o texto de opinião publicado  em 2010 que  levou esta congregação religiosa a processar  o também colaborador do Semanário Angolense.

Como que a Fugir com o rabo à seringa: AS QUESTÕES QUE A IURD NÃO RESPONDE - Celso Malavoloneke

Esta semana, fui chamado à 2. Seccão do Tribunal Provincial de Luanda (TPL) para receber o libelo acusatório movido contra mim e o Semanário Angolense por uma tal de Raquel Reis (brasileira, para não variar), “pastora” da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Ela alega que um texto meu datado de Maio de 2009, titulado “Em vez da Fé a IURD prega o Sexo” assinado com o pseudónimo de Anastácio Ndunduma atenta contra a sua honra e pudôr. Por via disso pede uma indemnização módica de... 60 milhões de kwanzas, mais ou menos 630 mil dólares! Tenho dito na brincadeira que mesmo que vendesse todos os amigos que tenho na IURD – e olhem que são muitos – não conseguiria juntar tal quantia caso fosse condenado.

Está-se mesmo a ver o que a IURD pretende com essa acção judicial: acossada pelas críticas que sobem cada vez mais de tom, pensou que atacando pela via judicial um dos semanários de maior referência na capital e um dos colunistas mais vocais nestas críticas amedrontaria a comunidade jornalística que, assim remeter-se-is ao silêncio. Nada mais errado. Na verdade, a própria IURD cria agora condições para ser obrigada a responder a uma série de questões às quais tem fugido até agora. Nesse sentido, fez até agora melhor que a sua congénere Maná a qual acabou encostada às boxes mais ou menos pelos mesmos motivos.

Porque a questão levantada pela Sra. Raquel Reis, é uma falsa questão. O artigo – que peço ao Graça que reponha para ajudar o raciocínio dos caros leitores – em nenhum momento pretende atacar a dita senhora que, aliás, não conheço de lado nenhum; limita-se a mencionar o facto que, por a senhora estar mal vestida para uma “pastora” (pelo menos pela maneira como na cultura angolana percebe-se que uma pastora deve vestir-se – nada de óculos extravagantes e t-shirts decotadas a mostrar o corpo) e as reacções que a sua indumentária aliada ao inusitado do que estava a fazer suscitou no ambiente retratado. O artigo nem sequer sanciona o comentário dito ofensivo, tendo o cuidado de mencionar que as senhoras que lá estavam não gostaram.

As verdadeiras questões levantadas pelo artigo não foram respondidas pela Sra. Raquel – já que achou que deveria ser ela a dar o rosto pela IURD, a qual aliás paga-lhe o salário. E que questões são essas?

Share:

Blogue Angodebates agraciado com prémio Dardos

O Angodebates foi distinguido pelo prémio Dardos através do Blogue 100viagensnoolhar.blogspot.com. Muito obrigado pelo gesto, sobretudo numa fase em que constato a letargia de muitos blogues de parceiros indirectos sobre Angola. O regulamento manda sugerir outros para o prémio, e é aqui que reside o problema. Retribuo a a força do simbolismo e atribuo o mesmo prémio para:

www.mesumajikuka.blogspot.com

http://cangue.blogspot.com/
http://morrodamaianga.blogspot.com/
http://edsonmacedo.zip.net/
100viagensnoolhar.blogspot.com


Gociante Patissa
Share:

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

voz do meu suor

O salário deixou saudades. É nessa hora que dá vontade de rezar para que o altíssimo ajude as infelizes almas que me devem (há caminho de cinco anos, com a cara de pau de fingirem que esqueceram) a se lembrarem de que não nasci propriamente num cofre do banco rsrsrsrs.
Share:

A propósito

Às vezes tenho a impressão que os jornalistas, ao fazerem cobertura de eventos ligados à arte, acabam pecando por excesso de show, de tão bem intencionados à partida. Já não falo das entrevistas não estruturadas e baseadas apenas no vedetismo, o que os manuais não aconselham. Preocupa-me fundamentalmente essa tendência recorrente de transformar informação em crítica "especializada" sobre literatura, artes plásticas, dança, música, enfim. E acabamos espantados quando vemos que o narrador patina no lamaçal de floreados desencontrados. Não seria mais assertivo ouvir a opinião de quem entende um pouco melhor do assunto?
Share:
"É mais fácil tirar da boca um dente sem anestesia do que a verdade" (Henry Vasconcelos, promotor de justiça brasileiro)
Share:

domingo, 25 de novembro de 2012

Diálogos

Cigarra: Sabes que a censura começa mesmo em forma de conselho.
Grilo: Eu sempre a vi mais em forma de silêncio.
Cigarra: Mas, espera aí, de que censura estamos a pensar?
Grilo: Não seria melhor mudarmos já de tema, irmã?
Share:

sábado, 24 de novembro de 2012

Crónica: Elevadores americanos, um monumento ao desconhecido


Janeiro de 2010. A chegada a Washinton, DC começou com pequenos percalços no aeroporto de Dulles. Na verdade, os percalços tinham começado bem antes, no voo de ligação em Newark, onde o pessoal de segurança suspeitou pelo tamanho da pasta de dentes que trazia de Lisboa estar acima do permitido para bagagem de mão. A presença do protocolo do Departamento de Estado (um senhor simpático de casaco azul) ajudou a desdramatizar a coisa, pois um mês antes tinha sido abortada tentativa terrorista de Mutallab, um jovem nigeriano, de pele escura e desacompanhado, como eu.

Voltando a Dulles, é um enorme aeroporto com dois pisos para saída, um reservado a viaturas familiares e outro para serviços de táxi. Fui logo sair trocando as opções. Perguntando a esse e àquele, lá consegui enfiar-me num táxi. Era africano o motorista, somali de 25 anos, que dizia estar nos EUA pela via do “green card” já lá iam dois anos. Pensava buscar a família, à medida que se estabilizasse. Pediu-me 30 dólares, e eu dei 50, satisfeito pela africanidade com que me abordou durante meia hora de estrada.

Na recepção, aguardava por mim um envelope com o mapa da cidade (como se o meu sentido de orientação fosse grande coisa) e a chave da porta em forma de cartão multi-caixa. Estavam também os três tradutores (mais guias do que tradutores, uma vez que dominar a língua inglesa era pressuposto para aquele programa de intercâmbio). Fiquei triste ao saber que me tinham reservado o quarto número 800. Não tenho a mínima atracção por elevadores, e caminhar oito andares é uma maçada. Tinha decidido aguentar tais "peregrinações", mas logo desisti de tamanha casmurrice. E foi nos elevadores que observei multiplicidade de choques culturais e laboratórios sociológicos.

Ia saudando em cada entrada para o elevador, como faria aqui, mas à medida que fossem entrando outras almas, notei que não esboçavam o mínimo gesto de saudação (salvo raras excepções). Acomodavam-se e olhavam para o lado. Estranho, pensei. Que vem a seguir? Essa gente faz monumento ao desconhecido? Como posso encontrar alguém num lugar tão restrito, como um elevador, e simplesmente “fingir” que não estou ali? Sim, porque saúdo para dizer que existo, como pessoa, como ser social. O outro lado faz o mesmo, e celebramos o milagre da vida, por muito breve que seja um sorriso, um aceno, ou um simples olá.

"I don't think I should say hello to the people that I don't know” (não acho que seja obrigação saudar pessoas que não conheço), disse certa vez, no contexto angolano, alguém de nacionalidade (e cultura) americana. Não lhe prestei grande atenção cá, como é óbvio. Agora que estava lá, as mesmas palavras tinham sentido bem diferente.

Mas depois me repreendi a mim mesmo por essa análise tácita em função da construção social, do meu sistema de valores, sobre a leitura de uma realidade geográfica e culturalmente distante. Que será que representa para a sociedade americana "o desconhecido"? Um ser inerte, uma fonte de medo, uma indiferença em movimento?

Gociante Patissa, Benguela 24 Novembro 2012
Share:

Foto de Joaquim Freitas, de Benguela (publicada no Facebook a 24.11.12)

Legenda do autor da foto: "MEUS COMPANHEIROS DE
LUTA....enfrentando algum frio luso"

Nzau Suka (à direita na foto) é dos melhores professores que tive. Para além da afabilidade com que me deu cada aula, conseguiu sorrir e dizer algo de bom toda a vez que tentei "exteriorizar" alguma indisciplina que fosse. Quando desisti do
curso de Linguística-Inglês (ISCED), para tentar sociologia (Jean Piaget), onde também ensinava francês, disse-me em jeito dócil: "estamos à tua espera lá". Pelo que lhe é merecida a minha de gratidão, na parte reservada para o efeito, na minha tese de licenciatura.

A foto não me permite ter a certeza, mas se o outro à esquerda é (como acho que é) o professor Santos Chinhama, trata-se de outro muito bom professor de francês com quem cruzei no ISCED. Lembro-me bem de ter perdido uma prova decisiva, não tendo hesitado, logo que o contactei, em me dar outra oportunidade (penso que do 2º para o 3º anos). Obrigado, professor!

Gociante Patissa
Share:

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O meu exemplar de "Quem me dera ser onda" de Manuel Rui Monteiro (que consegui há meses numa livraria do Lobito) anda perdido algures na desordem que é a minha casota. Alguém sabe onde esteja à venda?
Share:
"sim, chove suor, de tão quente que isso está"
Share:
Share:

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

No dia do educador, uma crónica do arquivo: Ministério “da educação” ou “do ensino”?


Parafraseando o nosso astro da música infantil, Pedrito do Bié, eu nasci no “mato”, depois vim viver para a cidade. Então, tenho a educação do “mato” e tenho a da cidade. Mas, agora assim, quanto ao ensino fica como?

No “linguajar da vulgo”, como diria um velho companheiro, “educação” refere-se à transmissão de valores no lar, ao passo que chamamos “ensino” à instrução recebida no ambiente escolar. Os académicos, às vezes pedantemente, gostam de impor que num e noutro caso se trata de “educação”, ou seja, a “formal” e a “não formal”. Eu, que já não gosto de falar com sebentas à boca, fico mesmo pelo “linguajar da vulgo”.

Então é assim: moro já num anexo arrendado no quintal de uma família que partilha o muro com uma escola, né? Vai da primária até 9ª Classe. Fosse fontenário, e teríamos água em fartura. É escusado dizer que, se fosse gerador eléctrico, era direito fazermos puxada (ou gato, como se diz). Mas, a vizinhança com a escola só nos traz prejuízos…! Quando chega o fim-de-semana é normal, mas de segunda à sexta…! Te pago se consegues sair da cama acima das sete da manhã. Éh pá, é que aqueles miúdos são cá de um barulho nos corredores da escola!!!

Eles "barulham” de tudo um pouco. Umas vezes cantam, outras dançam, isso, quando não batem palmas, que estalam como se viessem de tacos de madeira. E para completar a fotografia, vão umas estridentes gargalhadas. Uma “mbwanjaria”, que só vista! Mas então, não há medidas disciplinares? 

Ainda há pouco, quando estacionava o carro no parque, ouvi do outro lado da rua um “FILHO DA P…, Ó TREZEGUÉ!!!”. Era uma mocinha, a poucos passos da sala, querendo atingir um seu colega. O que se seguiu foram risadas de gente à volta, e pronto. Estamos aonde, afinal? Claro está que é uma amostra apenas de milhares de outras escolas por essa Angola.

Posso ser (tão) ingénuo (quanto a minha idade permite). Mas, enfim, não dá para esquecer a figura do Director Pedagógico (e dos próprios directores de turma) nas escolas por onde passei. Já não falo do Director, “autoridade” que só por “milagre” interagia com os estudantes amigavelmente. E aos que virem nestas linhas apenas “conflito de gerações” deixo-os à vontade. Como, aliás, realçou um jornalista de Benguela, não entramos nessa coisa da escrita à espera de unanimidades. O facto é que, hoje, o comportamento de jovens e adolescentes na escola, generalizando, é bastante preocupante.

O Ministério da Educação tenciona inserir no currículo escolar a disciplina de Direitos Humanos. No entender de um colega nestas lides de sociedade civil, “é muito má ideia”. Receia que se venha a banalizar a abordagem, tal como aconteceu com a Educação Moral e Cívica. É garantidamente um fiasco a EMC render-se à lei da “gasosa”, em que o aluno suborna para ter boa nota. Alternativa seria, defendia o colega, criar e capacitar associações de estudantes para o exercício da cidadania, e não ficar-se pelos apontamentos e papaguear.

Um professor de filosofia, quando andávamos no Puniv em 1996, dizia que a escola era do “Ministério do Ensino”, da educação é que não! Inferíamos da sua indignação a corrosão de valores, da qual a escola é simultaneamente a vítima e a promotora. E a tendência é piorar. Haverá como inverter isso?

Gociante Patissa, Benguela 15 Julho 2010
Share:

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Artista ou artesão?


Perguntei, em tempos, a um famoso escultor e artista plástico sobre a diferença entre “o artista” e “o artesão”. O que retive de sua resposta foi que o artesão produz para vender, vindo daí a existência de milhares e milhares de peças de "o pensador", onde o que manda é a vontade do cliente. Por sua vez, o artista segue a sua intuição e, embora no final almeje comercializar, é a sua voz interior que prevalece, preocupando-se não apenas com a dimensão estética, mas também a originalidade. Difícil passou a ser para mim achar a caracterização justa para o velho Kacitoto [kat∫ito:to], escultor da comuna da Equimina, município da Baía Farta (décadas de 80 e 90), cujas obras marcaram até muito recentemente a decoração da nossa casa. Calhava às vezes um cliente gostar de uma determinada peça. Mas era inútil pedir que produzisse uma réplica. Aliás, até o camarada comissário/administrador comunal, Victor Manuel Patissa (1946-2001), respeitava tal condição. Ninguém o encomendava preferências, bastava solicitar estátua, que o tipo e forma ficavam por conta do que viesse ao imaginário do mestre durante o sono. E foi sempre respeitada a vontade do mestre Kacitoto, iletrado e sem a noção científica de filosofia da arte. Neste caso, era artista ou artesão?

Gociante Patissa
PS: Não estou certo que a escultura da foto seja da autoria do velho Kacitoto
Share:

Leituras recorrentes e inusitadas sobre minha aparência

No ano de 2006, fui em três circunstâncias distintas tratado como "langa" (congolês democrático): Na ponta da restinga ao tentar apanhar um táxi;  em Luanda, defronte à Sistec, quando tentei comprar banana, tendo sido necessário falar Umbundu para que as zungueiras acreditassem. Fui langa num outro lugar, de que agora não me lembro. Naquele ano, na viagem de autocarro entre Lubango e Ondjiva, a caminho da Namíbia, outros passageiros no autocarro olharam instintivamente para mim em jeito de resposta à polícia fronteiriça, quando perguntaram se não havia estrangeiro no autocarro. Julgo que terá sido também por andar embalado na leitura do livro "Many yesses, one No!". Este ano, se a tendência pega, acabarei com ares de Padre. Foi o que disse o tipo a quem vendi um bem, tendo-me cravado mais 2 mil kwanzas fora do acordado. Esta semana, tem estado a insistir uma rapariga executiva em como tenho ares e forma de falar de Padre. Começo a pensar em abrir uma seita e facturar uns dólares, para não ficar pela fama sem proveito rsrsrsrs.
Share:

terça-feira, 20 de novembro de 2012

"Reprodução" é o que as famílias (africanas Bantu fundamentalmente) mais sabem cobrar aos entes solteiros. "Social" sabemos que está relacionada com a vida em sociedade. O que na verdade me deu um susto grande foi aprender o conceito de "reprodução social" (tendo a realidade como laboratório) no curso de sociologia de que desisti ainda no 1º Ano na Universidade Jean Piaget Benguela.
Share:
Procura-se por esta Angola e com muita urgência: "humor refinado" (outra forma de dizer "com inteligência")
Share:
Olhando para as notícias sobre criminalidade e o papel dos advogados, vem-me à cabeça o lado pernicioso destes profissionais vocacionados ao respeito pela lei. Não devia haver um tipo de sanção para advogados, naqueles casos em que está mais do que óbvio que tudo o que estes tentam é encenar, mentir e fazer mentir, só para livrar seus clientes? Até onde pode ir a margem de manobra do advogado? Se na ciência temos a componente da bioética, não há no Direito algo equivalente? Isso, tendo em conta que ao mentirem, muitas vezes os advogados mancham a boa imagem do outro lado. Como fazer com que o direito seja mais do que simples jogo de retórica para ganhar a causa (dinheiro)? Que diz a lei sobre isso?
Share:

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Um familiar chegado meu tatuou seu próprio nome no braço. Fiquei a pensar que devia ser para não esquecer. Agora penso tatuar no meu braço "salário" que é para o desgraçado não se esquecer de mim. É que é a única fonte, e isso de só nos vermos uma vez por mês...
Share:
"Ele já lhe pagam na escola, ainda cobra mais dinheiro nos alunos" (aluno de condução a respeito do seu instrutor 12.11.12).
Share:
"A primeira vítima de uma guerra é a lei" (autor desconhecido)
Share:

domingo, 18 de novembro de 2012

O presidente do Futebol clube do Porto, Pinto da Costa, e o seleccionador português, Paulo Bento, envolveram-se em trocas de "galhardetes" em consequência do jogo amistoso com o Gabão, tido por muitos como um desprestígio para os europeus - excepto pelos 800 mil euros arrecadados. Pinto acha que os atletas do seu Porto foram subaproveitados, ao passo que Bento não aprova opiniões que julga interferirem no seu trabalho. Os ânimos aquecem, de entrevistas passa-se à onda de comunicados. O que me parece "interessante" é o facto de a Federação ter lavrado comunicado em apoio ao seleccionador, afirmando que esse convoca os que bem entender. Só que diz aquela federação, no mesmo comunicado, que "não alimenta polémicas". Ora pois, se assim fosse, não devia convocar as duas personalidades para o diálogo, antes de tomar posição pública (ainda que razoável) numa "contenda"? GP
Share:
"Tens que ter sempre um mil. Você não pode deixar a mulher tocar no teu telefone. Quando ela falar 'amor, deixa fazer uma chamada', você diz 'toma dinheiro, compra saldo para ti, amor'. É assim, meu, fica esperto" (amigos conversando no bar, 17.11.12. Lobito).
Share:

sábado, 17 de novembro de 2012

Num caminho encorajador

Passei ontem uns dez minutos numa das farmácias que ficam na rua do hospital central de Benguela. Eram 22 horas mais ou menos. Procurava gotas para o ouvido por causa de umas “dores de avião” que de tempo em tempo me chateiam. Estava uma senhora a ser atendida antes de mim. Alta e forte, acima dos 30 natais comemorados. Pediu alguns medicamentos e no final disse abertamente: “preservativos!”. O farmacêutico trouxe um pacotinho de “Legal”. E ela, de testa franzida, indagou se não havia “Suave”. Não. Foi a resposta do atendedor. E a contragosto, lá estava a senhora a mexer na carteira para pagar. Entra de imediato um jovem, que cumprimenta e pede alguns antibióticos. Ainda tentei lançar um olhar de “exercício da cidadania”, mas notei que o rapaz, de cuecas acima dos calções, não estava minimamente preocupado com a noção de atendimento por ordem de chegada. E pede também preservativos. E também reclama por só haver “Legal”. Não aceita mesmo a marca e abandona a farmácia. Obrigado pela cedência de prioridade, digo eu, de mim para mim. Foi então que pedi as gotas para o ouvido. E antes mesmo de deixar a farmácia, um outro jovem surgiu atrás de preservativos. Enquanto eu tentava especular que influência teria no acto sexual uma marca de camisinha, não evitei um sorriso de satisfação. Para alguma coisa estão a valer as sinergias na luta contra a SIDA. Quem, como eu, alguma vez participou em campanhas de mobilização interpessoal pelos “três barcos de salvação (abstinência, fidelidade e uso da camisinha)" recorda bem a resistência dos cidadãos abordados. E olhe que as camisinhas eram gratuitamente distribuídas. Se hoje, em 10 minutos numa farmácia, temos a oportunidade de observar três almas que querem comprar camisinha, chegando mesmo a ter preferências por uma marca, estamos num caminho encorajador. Sempre defendi que “A Cidadania é Resultado de um Exercício Permanente de Educação e Comunicação”.

Gociante Patissa
Share:

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

"Ligou como que do nada contextual. Bela e firme voz feminina, parecia sorrir, parecia untada de entusiasmo. Era para dizer que o tinha visto. Ele, tentando descobrir quem estaria do outro lado da linha, foi colocando várias perguntas. Em vão, diz ela, eu é que te conheço. Sou irmã da fulana, acrescenta, para uma confusão ainda maior, pois desta fulana o tipo mal fazia ideia. Seguem-se durante dias telefonemas. Dela. Todos. Que vais fazer? Como estás? Planos e tal são os pretextos, não indo por aí além a conversa. Quase tudo muito táctico, como se diria no desporto. Um dia ele liga para retribuir, e ela desata aos berros, protestando: tu não me podes ligar assim, eu tenho marido! Liga-me daqui a 15 minutos quando estiver na universidade. Ele apaga da memória do telefone o número, sem chegar a saber de quem se tratava. Fim".
Share:
"Mano, boa tard...foi bom o apelo k dexaste, a quando o dialogo com a Dona Filó, no espaço de rádio [Benguela, noite de 12.11.12], relativamente ao espirito de deixa andar, por part d muitos gestores públicos, relativamente, no k toka a impunidade. ker dizer, alguém faz e nao é responsabilizado, logo, incentiva outros a procederem-se da mesma forma...abraços..." (de um jovem de Benguela preocupado com a pátria)
Share:

Onde o som é o cheiro


“Em rádio, o som é o cheiro, a luz, a cor, a forma. O som é tudo. Quando o DJ, tendencioso, despeja músicas sentimentais, para impressionar uma ou várias mulheres que não encantaria com palavras próprias, sabe que é pelo som que o outro lad
o recebe os recados”. 


É este o parágrafo que abre o conto "A Última Ouvinte", do livro com o mesmo título, lançado em 2010. Confesso hoje e aqui o facto de me ter inspirado no meu amigo Dinho Owen Carlos, dos tipos mais porreiros na minha experiência de locutor através da Rádio Morena (2003-2010). Ele teve um acidente na estrada, acabando com o braço engessado, o que lhe vai afastar por um tempo do ambiente de rádio. Rápidas melhoras, ó companheiro!
Share:

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

"Tinha a mania de pensar que a poesia nasceu no seu quintal. E por assim ser, tinha todos os dias alguns minutos a dedicar ao mais florido cantinho do quintal. Cruzava as pernas com um livro na mão. Não era um canto qualquer, tratava-se de um com vista privilegiada. Pela janela, via-se do lado de dentro uma estante. O orvalho a escorrer pela vidraça, dava a impressão que os livros andavam muito bem conservados num frigobar. É nessa altura em que lhe vinha à cabeça a alegria de camponês que completa o ciclo com um escoamento eficaz. Nesse instante dava um gole, entornava um pouco para regar o chão, e acreditava que na manhã seguinte estaria a nova poesia a germinar. Talvez no chão, talvez num qualquer pregão. Apenas algo menos bom: era como se fosse inorgânica a poesia que do seu canteiro não nascesse". (Gociante Patissa, crónica em construção 15.11.12. Benguela).
Share:

Podia ser tudo, menos sandes de frango


Salt Lake City, estado de Utah, nos EUA. Inverno de 2010. Tínhamos passado a manhã a fazer apresentação sobre nossos países (história, contexto e perspectivas) na sala de conferências da universidade para uma plateia que juntou a família académica e pessoas curiosas sobre o mundo além América. Sete oradores líderes de organizações juvenis engajadas na promoção de direitos humanos, um por país. Por Angola ia eu. A fome apertava, como era de direito, passado do meio-dia. A mim talvez mais, de tanto que me custava a adaptação à população de comida que enche a mesa dos hotéis americanos ao mata-bicho. Como pouco de manhã, para entulhar o estômago ao almoço. Lá é ao contrário. No refeitório da universidade, lá passava o menu. Escolho algo que me soa familiar entre as sandes (tinha lá uma vegy, que logo ignorei). Sandes de frango, e não se fala mais nisso! Minutos depois, chega-me um pão com algo amassado lá dentro, nada, mas nada mesmo que se parecesse com as nossas "motorolas" ou "magogas", aquele pão escancarado com coxa de frango frita (ou grelhada dentro). Tentei ainda pedir a uma colega de grupo o obséquio de partilhar comigo a sua sandes mista, ao que negou, e com razão, dado que era pouco para a sua fome, quanto mais comer metade... Fica o conselho: mesmo que (como eu) não comas aqui, não as desdenhes, que as "motorolas" apetecem lá fora. Nunca se sabe rsrsrsr
Share:

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

"Comigo é estranho, consigo buscar de memória a cara de todo o mundo, menos a de pessoas com quem tiver namorado"
Share:
À hora de comer:

"Por favor, explica-me o que é crepes. Não sei o que é, vi no menu"
"Desculpa?"
"Quero que me expliques o que são crepes. De que é feito, para ver se peço".
"Ah,não conhece crepes?"
"Não. Foi o que disse".
"É mesmo crepes, tipo de sobremesa. Só que este é mesmo para refeição".
"Sim, mas é feito de quê?"
"É assim com leite... misturado..."
"Ok. Dá-me um bitoque, que é mais barato e prático"


Uma hora depois
"Traz a máquina, que é para pagar com cartão"
"Ah, o cartão?"
Share:

extracto do conto "O Homem da Viola"


"Não acontecia de outra forma. Se tocasse no mato, vinham os pássaros ter com ele, aglutinando melodias. Se tocasse numa zona habitada, poisavam os pombos à sua volta, um atrás do outro. Uns achavam que era da voz, outros achavam que o poder estava na viola. Mas como se vai saber distinguir, se ele nunca deixava o instrumento, se não cantava sem dedilhar? (...) Sempre renovou, no seu cantarolar de praguejar a guerra, a promessa de visitar a terra que o viu nascer, a comuna da Chila, logo que calassem as armas. Mas o tão sonhado regresso acabou por não ser do jeito que imaginava. A onda de raiva com que o seu povo o expulsou, antes mesmo que se instalasse devidamente e se refizesse do cansaço da viagem, fê-lo abortar a visita. A sua canção não seduzia apenas pombos, atraía também corujas e corvos. E era disso que as pessoas tinham medo.
— Que dom é esse? — reprovou o líder da comuna, temendo desgraça. — Filho da terra traz esposa, cobertor, sal, não me traz azar. Assim é que não!
— Não faço mal a uma mosca, e isso não depende de mim, pai.
— C’os meu uotenta anuji, meu menino, nunca ouvi história bonita de corujas e corvos. É porque esses bicho é veneno. Senão, caté criava, como galinha-do-mato. Se quer visitar tua terra, não toca viola, também não canta.

Como era de esperar, o Homem-da-viola respondeu que não aguentava um dia sem cantar. Apodreceu a paz... ". 

(Gociante Patissa,  2010 - extracto do conto "O Homem da Viola", in "A Última Ouvinte". União Dos Escritores Angolanos: Luanda) 
Share:

Deve ser meu familiar na outra encarnação

achada algures no facebook
Share:

terça-feira, 13 de novembro de 2012


“Para mim, a arte é uma forma de intervenção. Não é sobretudo uma forma de recreação, ou de diversão, só para as pessoas se sentirem bem. Não.” (Ana Clara Guerra Marques, Voz da América, 11.11.12: Luanda)
Share:

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Em cinco anos de namoro, cada parte terá tido tempo para conhecer (bem demais) os gostos e desgostos da contra-parte. Ela estava aborrecida naquele exacto dia, dizia-se mesmo profundamente. Ele tinha tido um dia terrível no serviço e chegou à casa sem dizer o que ela mais ansiava ouvir. "Feliz aniversário, amor, muitos êxitos". O sol sequer se tinha posto. As coisas mantinham-se no lugar como em dia qualquer, pelo que em nada o cenário ajudava a reminiscência. Na hora de se irem deitar, já sem vontade alguma de ir ao restaurante mais próximo que fosse, ela soltou duas lágrimas, uma curta e outra aterradora. "Porque é que fazes isso comigo, homem, que distracção é essa!?". Prometeu tratá-lo com a mesma indiferença, logo que chegasse o aniversário do parceiro. Sorte a dele, digo eu, que ela ainda desconhecia tal data. Tinham sido dela as velas apagadas ao longo desses anos. Todas. Talvez não tivesse reparado. (crónica em construção por Gociante Patissa, 12.11.12)a
Share:

domingo, 11 de novembro de 2012


Para mim, é o comentário do ano:

"Estes ideários, ora pregoado com fins de asfixiar o bem publico, com os certames da pessoalidade não declina nos para o futuro que almejamos. Os bens publicas na sua ôntica genéricas, não servem para apoucar as finalidades que form atribuídas, pois restringir los da auferiçao publica que serva de supino da sua criação! descendem para os demais tipo penal ou crime
 penal material. Por assunto, nas interpretações de crimes contra pessoa-humana , no suster dos jusnaturalistas e crível haver uma revolta civil por parte do povo para, que seja tutelada vigada e restaurada a ordem natural descumprida." (Lubazandy Degelson Luciano, quando comentava matéria sobre um evento da Central Angola e que acabou não acontecendo por falha dos gestores da sala arrendada para o efeito, 11.11.12)
Share:
Santa-Cruz, como bairro, onde vivi de 1987 a 2008, acabará por sumir do mapa um dia - não digo já o geográfico, que ultimamente as coisas levam séculos para se verem actualizadas; mas é de morte à morte, de tragédia à tragédia, que os impérios afectivos ruem. Ainda há pouco foi o Kalú de morte não avisada, em serviço. Veio por telefone tão pesaroso recado. E pelo mesmo telefone, que de velho se ouve muito baixo, veio outro. Desta vez, é morte, também em serviço. O Loló, de por aí 27 anos, que tantas vezes foi (com o próprio Kalú) guarda-redes no futebol pelado do que um dia foi terra de cultivo da açucareira 1º de Maio, entre Lobito e Catumbela, o Loló mesmo, filho do caboverdiano Amaro (que tinha o hábito de apertar a mão às crianças até ver lágrimas), o Man Lolas, mecânico de kamazes, oral e outras viaturas militares perdeu a vida. Estava a trabalhar no estaleiro contíguo à pediatria do Bairro da Luz, no Lobito, até um contentor cair por cima dele. Sua mãe foi a velha Felícia, do Bocoio, irmã mais nova velha Ana Nana, mãe do marido da minha irmã. Foi-se o rapaz Loló, primo-irmão de Don Refer (este por sua vez cunhado e amigo de infância e compositor musical auto-didacta, impedido pelo anonimato).

Gociante Patissa
Share:

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Crónica do nosso arquivo: Um encontro casual com o velho Luwawa ao almoço

Foto: Webshots
No Lobito, contam-se aos dedos os restaurantes que sobreviveram à segunda república. O calar das armas e a transição para a abertura do mercado abalaram economias e hábitos de consumo. De sorte que, quando a paz não precisar da guerra para se autodefinir, os humanos ter-se-ão transcendido a si próprios, digo eu.

As cidades são árvores que mantêm a essência enterrada, enquanto galhos, folhas e frutos vão e vêm. O centro do Lobito resume-se em duas ruas, a de entrada e a de saída, entre o bairro da Caponte e a na Zona Comercial. Só depois da Colina da Saudades se cruzam, para o Compão, a sul, à procura do bom pescado da Kabaia, ou para a ponta da Restinga, a norte, onde a cidade se liberta na língua da praia, em geral para tirar proveito da escuridão que o lugar regala aos casais.

O Gunga-Bar fica na rua de saída, resistindo a quaisquer infortúnios, sendo deles o mais pesaroso a morte do proprietário por acidente rodoviário, há coisa de três anos. Guardo na memória a cena da moça que tiramos do sono, às duas da manhã, em finais da década de noventa, para nos servir bebidas, numa breve fuga aos preços da discoteca ali perto. O restaurante prestava-se ao desafio de servir 24 horas por dia, muitas vezes à luz de poucas velas entre uma falha e outra da energia geral, não dispondo de uma simples fonte alternativa.

Tem rosto moderno mediano, o que só pode ter contribuído para maior fluxo de clientes. É um restaurante pequeno e fechado, rendido a essas irreverências ocidentais de igualdade entre classes, onde o cliente chega, como qualquer outro, serve a variedade que der, põe o bolso a falar com a balança, e ocupa a mesa. Só depois vem o garçon para o que se quer beber.

Estava lá eu a almoçar em tempos. Às tantas, entra o vigoroso septuagenário com duas raparigas, que tanto davam para meretrizes como para netas suas com défice de decência no trajo apenas. Ocupam uma mesa ao fundo, num canto entristecido pelos vidros fumados, onde poisam objectos irrelevantes como sinal de demarcação territorial. Luwawa é um farfalhoso intelectual Bantu, devolvido pela trama da história à sua cidade natal. Bons filhos sempre tornam à casa, os não tão bons também, há quem também o diga, e até mais previsíveis.

Há histórias de vida que revelam fatalidade, quando a personalidade não se dissocia da etimologia do nome atribuído pelos progenitores, ou o adoptado do xará. Luwawa, por falar nisso, é uma espécie vegetal odiada pelo seu fedor, o que, entretanto, não justifica que os Ovimbundu torcessem, à partida, o nariz a toda espécie humana com tal nome.

Velho Luwawa, de sorrisos largos como o casaco e a gravata, é um acontecimento em pessoa, um poço sem fundo que ninguém quer ter contra si. Talvez fosse por isso que, em se tratando de self-service, foi-lhe dada, e por arrasto às muchachas, uma deferência incomum: serviu, pagou e deixou os três pratos no balcão da balança, para serem pelo pessoal de serviço levados à sua mesa.

Bem, agora vou andando, que conheço ateus, conheço cristãos. Para ambos, é sagrada a hora da refeição.

Gociante Patissa, aeroporto 17 de Setembro, Benguela 2 Agosto 2012
Share:

Diálogos de luz e trevas

Mecânico (muito entusiasmado): “Já mandei vir uns chenons. Faróis, longos e tudo! Meu carro vai ter que ser uma cidade!”

Bate-chapas (curioso): “Ah é?! Porquê?”

Mecânico (com ar triunfante): “Tem um gajo de camião que me encandeou muito”.

(há uns meses já, 2012)
Share:

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Devo ter certamente cara de sindicalista, que de patrão já sei que não será. Mal cheguei ao bar onde costumo trabalhar questões de escola, depois de ouvir o "oi, meu kota", está o garçon (como que a elogiar meu portátil) abrindo-me o rol lamentos pelo baixíssimo salário que ganha. Entre suspiros e desejos, tudo o que lhe posso dar é um pouco do meu já pouco tempo. "O trabalho dignifica [às vezes, danifica mesmo] o homem", já dizia o outro.
Share:

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Algo de que "adoro" em Angola é que as greves, em última análise, são sempre ilegais. O patronato sempre ganha. Enquanto isso, a soberania da lei, como diz um amigo, continua inquestionável no papel. Letra inerte. Vem isso a propósito da notícia no telejornal sobre a greve na Angola Telecom, cujo PCA "exorta os trabalhadores a não aderirem à greve convocada para amanhã pelo sindicato da empresa". Mais adiante, com promessa de implementar melhorias no salário deste mês, a direcção "apela ao bom senso". Minha desilusão com o papel figurativo dos sindicatos data de 2000.
Share:
"Ele veio mais gordo, agora tem mais personalidade" (mãe e filha caminhando para o serviço, 07.11.12).
Share:

Lá está

Share:

terça-feira, 6 de novembro de 2012


Uma coisa que não entendo é o sistema americano de votação. Quanto mais me explicam, mais céptico me torno. Quer dizer, a população vota, para mais tarde um "grupinho de iluminados" decidir quem ganha. Ora pois, não seria melhor poupar a população da maçada de andar às urnas?

PS: Alguém de nacionalidade (e cultura) americana, com quem trabalhei há uns anos, já quase se fartando, disse-me em tom de encerrar a conversa: "Tinhas que ser americano para entender". E eu, com a mesma dificuldade que tenho em entender o porquê de, de um mesmo país, uns estados praticarem pena de morte enquanto outros não, respondi: "Deve ser isso mesmo, eu teria de ser americano para entender".

Share:

Boa nova para autores sem obra publicada: vem aí o "Prémio literário António de Assis Júnior"


Com o objectivo de prestar homenagem aquele que é reconhecido como o “criador” do romance angolano, a União dos Escritores Angolanos, em conjunto com o jornal “Cultura” e o Banco Angolano de Investimentos (BAI) vai apresentar, no próximo dia 7 de Novembro, na sua sede, às 17.30 h. O Prémio Literário António de Assis Júnior, cujo objectivo é promover o conto, como género literário. Poderão concorrer a este prémio, autores de contos inéditos, sem obra publicada.
Share:
"Apoios. Patrocínios. Lei do Mecenato. Alguém que leve a “Cultura” a sério e não como uma forma de estarmos juntos a ouvir música e a beber uns copos. Como estamos de apoios a actividades tão importantes como esta?" - Carlos Ferreira, in «Suplemento Mutamba», 2 Novembro 2012. Luanda: Novo Jornal.
Share:
“A base cultural do país não pode nem deve assentar apenas naquilo que o cidadão comum vê, ou seja, na música, na dança, na moda e no Carnaval”. - Jacques Arlindo dos Santos, in «Suplemento Mutamba», 2 Novembro 2012. Luanda: Novo Jornal.
Share:
"É preciso pensar para acertar, calar para resistir, e agir para vencer" (pensamento atribuído a Renato Kebl).
Share:

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

"Brasileiro gosta de mistura, desde que ninguém ameace a nossa cosmovisão e epistemologia ocidentais [...] Mestiço, quando se desmestiça e vira índio, o branco mata". 


Texto completo aqui:

http://www.amalgama.blog.br/11/2012/nos-e-os-indios/
Share:

A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

Publicações arquivadas