segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

domingo, 30 de dezembro de 2012

poemas do meu dorso: Brincando aos sóis

Brincando aos sóis

E quando o sol de inverno despoleta
assim, entre o virtuoso e o fétido
lembra viagem incompleta
de tão tépido

Gociante Patissa, Benguela 30.12.12
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Uma vontade imensa de estar agora no Namibe, ligação que faria por estrada, ao volante, se alternativa houvesse à Serra da Leba.
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sábado, 29 de dezembro de 2012

Monossemia?

"Naquela manhã, o grupo de cérebros, que até então vinha tendo ritmo criativo aceitável, entre concessões e troca de ideias, passava a enfrentar um impasse durante a elaboração dos estatutos. Uns categorizavam a Mesa da Assembleia Geral como sendo o órgão soberano, dada a natureza cooperativista do consórcio. O Outro lado, irredutível por sinal, impunha que nada mais além de Deus podia ser soberano".
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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Crónica: Devolvida à noite


A vivência do homem resumia-se em umas quantas ruas, a da escola, a do serviço, a das refeições em casa da mãe. Esta última saía-lhe agridoce, por serpentear entre o hospital e a casa mortuária, e com isso o embaraço em tomar por rotina o contacto com pesares alheios – confundindo-se a origem de pesadelos esporádicos, entre o caminho ou algum prato indigesto.

O ciclo do dia fechava-se faltando poucas horas para o outro. Visto do seu relevo, tudo o resto ficava a norte, noutra margem do século. No dia seguinte, estava outra vez a vida a imitar-se a si própria, nos mesmos caminhos e desencontros. Sorte era não ter de quem se esconder, já que “ofeka yinene ño nda okasi mo lesunga” (o país só é grande se levas a vida com justiça).

Numa qualquer noite, ia ele a conduzir devagarinho, o que bem podia ser atribuído à digestão, se não à chatice que era ir para a cama com a bomba de embraiagem na cabeça, agendada que estava a oficina para as primeiras horas da manhã. Quando a amizade com o mecânico aumenta, está na hora de nos desfazermos do carro.

Sobre a rotunda do Kulinji, estava uma mulher de dedo em riste, trajo de festa em dia normal de serviço. Não devia ter mais de 25 anos. Parecia ter pressa. Não parecia, tinha mesmo! O homem pára, ela ocupa de imediato o assento do “morto”. Obrigada, moço! Vamos, diz, como se estivesse a ser perseguida. São dez da noite. A aflição da rapariga, revelada em fracção de segundos, deixa o homem perplexo, pois contrastava com a harmonia que se auferia do lugar.

De onde vens? Aonde vais? Indaga, como que a ganhar dimensão real da situação em que acabava envolvido. Fui atacada há pouco por um maluco. Fomos se esconder numa casa, mas mesmo assim. Um olhar dos pés à cabeça é inevitável. Tudo muito aprumado, para quem andou a correr. Maluco, como? Desses sujos, ou alguém que se portava mal? Maluco mesmo! Sorte foi a polícia. Pulamos o muro e fugimos. Meu Deus! Nem sei onde está a minha amiga… O homem disfarça a estranheza, pois os dois agentes na rotunda eram reguladores de trânsito, quando a unidade de anti-motins ficava perto dali. Que alvoroço seria tão invisível?

Quanto mais ele tentasse entender o relato, mais ela multiplicava os tentáculos. Melhor era calar, ouvir, ou dizer fragmentos apenas. Expressava-se razoavelmente, falava era demais, tornando a conversa em manancial de novos começos, poucos fins à vista. Mas compensava. Era linda. Perfume à medida. Curva à direita!, ordenou. Os faróis não ganhavam para a escuridão em bairro emergente a sul de Benguela. Doses de insegurança à mistura. A marcha não permitia mais de dez quilómetros horários, ou não fosse idoso o carro. Ultrapassaste, a entrada é aquela, repreende, duas ruas adiante, como se o homem já conhecesse a casa.

Sabes, eu sofro na minha irmã. Meu cunhado é português. Tenho que fazer o trabalho de casa. As crianças são chatas! Desculpa, isso não se fala, né?! Tens filhos? Não, responde o homem, as camisinhas não deixaram. Só rezo para ter emprego, entrar para a faculdade, continua ela. Já tentaste concurso público na educação? Ainda não acabei o médio, será que aceitam?

Ia sugerir um passeio, mas conteve-se, ouvindo a voz interior. A noite saberia melhor o que fazer com a mulher. Bem, estás entregue, estou com sono. Até mais! Obrigada! Qual é mesmo o nome do moço? Digo-te se nos voltarmos a ver.

Gociante Patissa, Aeroporto Internacional da Catumbela, 28 Dezembro 2012
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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

«O próprio provedor deverá constatar, in loco, as factualidades» (Paulo Tjipilika, in RNA, 27.12.12)
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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Raridades

Sua biografia aparecia em último lugar naquele folheto. Tinha 18 linhas, entre as quais "ODP" e "carabina mouser de dois canos" apareciam nove vezes, respectivamente.
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terça-feira, 25 de dezembro de 2012

«Comunidades Mucubais não celebram o Natal», diz notícia infeliz da Voz da América, como se isso fosse crime algum...

Nota do Angodebates: Entre o exotismo, erros de formatação religiosa e ignorância culpável da parte de quem elaborou a notícia, a Voz da América perdeu uma grande oportunidade de fazer um trabalho jornalístico mais inteligente, ouvindo por exemplo uma perspectiva antropológica e a forma de ver as coisas por aquele povo. O artigo que reproduzimos, é de Armando Chicoca a 24.12.2012, e tinha por título inicial «No Namibe, comunidades mucubais não aprenderam a celebrar o Natal».



NAMIBE — Há muito que se tem falado que a população Mucubal, autóctones locais que não professam nenhuma religião e por via disso, não comemoram o Natal, data que simboliza o nascimento de Jesus Cristo e não só.


Algumas comunidades da localidade de Manhengo confirmaram isto mesmo, descontraídos, como se não tivesse acontecido nada, é o clima testemunhado pela Voz de América.

Para percebermos melhor sobre este facto, procuramos ouvir o Soba Grande das comunidades Mucubais, José Bony.

Aquela autoridade tradicional disse que este povo não cedeu à colonização e o distanciamento com os missionários fez com que os autóctones ficassem sem saber sobre a existência de Jesus Cristo até aos dias de hoje.

O Natal não é comemorado nas comunidades Mucubais e a falta de informação e o fraco trabalho das instituições religiosas pode ser apontado como sendo umas das causas, O Soba José Bony refere-se que estas populações mantêm-se fiéis à sua cultura.
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domingo, 23 de dezembro de 2012

ENTRE AMIGOS...

Um: então, a esposa? Quando arranjas uma esposa?
Outro: E tu, quando voltas para a escola?
Um: Bem, é para já. Mas a questão é da tua esposa.
Outro: Vamos fazer um acordo?
Um: sim...
Outro: Tu deixas de beber, assinamos um compromisso teu neste sentido, e eu me caso. Seria mau entrares em choques com minha eventual esposa por causa de tuas bebedeiras.
Um: estás chateado?
Outro: Não. Entendo que queres o meu bem com essa cobrança. Também quero o teu bem...
Um: acho que ficaste chateado...
(cai a noite, fim de conversa)
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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Os criadores e servos da arte, tão hábeis em manipular, julgar e antever emoções de seus personagens, mais não são do que trapalhões e analfabetos na sua própria vez. GP
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Não vá o paludismo estragar a alegria

Estão a contar os dias pelos dedos os moradores. Remeteram já suas fotocópias dos bilhetes de identidade. Está para breve a extensão do ramal de água canalizada pelos bairros e sanzalas da sede do Monte Belo, comuna qualquer do interior que beneficiou de um sistema de captação e distribuição da Empresa de Águas e Saneamento de Benguela. Meu tio até já diz que seremos nós a abrir a torneira, na próxima visita que fizermos. Um senão, entretanto, prende-se com pequenas roturas ao longo da tubagem, criando-se com isso águas paradas e viveiros para o império dos mosquitos. O reforço da educação para a saúde deverá ser o investimento imediato, não vá o paludismo estragar a alegria.
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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Oratura: Porque é que os ovimbundu trazem sempre uma faca?


Os acordos de paz de Bicesse em1991, entre a Unita e o governo de Angola, pondo fim à guerra civil que se arrastava desde a independência em 1975, propiciaram a primeira experiência de encontro e reencontro entre famílias angolanas, até então separadas, quer pela geografia, quer por antagonismo ideológico. Foi nessa ocasião que se despertou a dúvida de carácter antropológico que hoje abordamos, depois de uma explicação recentemente colhida junto de fontes orais no interior da província de Benguela.


Numa manhã de domingo, familiares hospedados em nossa casa preparavam-se para ir à procura de um seu tio. Eram dois jovens irmãos maiores de 18 anos, nascidos em aldeolas recônditas, órfãos de pai e rodeados de família materna. Agora no Lobito, teriam a oportunidade de conhecer o irmão mais velho de seu pai. Só podia ser grande a ansiedade. A par do nome, a única referência que tinham da pessoa que procuravam era o nome da igreja. Sim, teriam de o achar entre a multidão num templo em pleno dia de culto.

Enquanto os observava, pus-me a protestar, pois cada um tinha uma faca. Para quê, em dia de descanso na cidade? A minha desvantagem na troca de argumentos foi grande, uma vez menor de idade. Cheguei a calar mesmo quando um deles disse que “homem deve trazer sempre uma faca”. Porquê? Insisti, em vão. Lembrei-me no momento de que a minha mãe me tivera dito alguma vez o mesmo, e do mesmo jeito lacónico. Venci ao não deixar que levassem as facas, mas a dúvida continuou suspensa na mente. Que representa a faca para o Ocimbundu?

De volta ao Monte Belo reparei que dois anciãos traziam faca no bolso do casaco. Um deu gume à faca de mesa, o segundo usava como canivete faca de escritório. A inquietação não se fez esperar. Para a nossa fonte, isso vem dos primórdios, quando se caminhavam longas distâncias, correndo-se o risco de sofrer assaltado. Nada mais do que autodefesa. Tolo será quem pensa que as mulheres andem desarmadas. Se os homens trazem sempre uma faca, as mulheres têm “ohumbo” disfarçada nas tranças. Trata-se de agulha artesanal com cerca de três milímetros de diâmetro, geralmente usada para costurar sacos, quindas e balaios. Em sua ausência, bem serve um alfinete normal. E quantas não terão frustrado tentativas de assalto em viagens, sacando oportunamente da sua “ohumbo” algures sob o lenço…!

Bem, aqui chegados, confesso que passa a ser secundária a minha tese, que relacionava o hábito de trazer faca à esperança de partilhar carne, ou então desbravar caminhos.

Gociante Patissa, comuna do Monte Belo, município do Bocoio, província de Benguela 18.12.2012 
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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Notas soltas: Dois pequenos grandes exemplos que nos chegam do interior


Duas cenas saltaram-me à vista, anteontem, durante o funeral de prima minha que perdeu a vida em complicações de parto, na comuna do Monte Belo, minha terra natal no município do Bocoio, que dista por aí uns 90 quilómetros do Lobito.

A falecida era da “Jota” (braço juvenil do partido MPLA). Como tal, aquele movimento fez-se representar por uma dezena de rapazes e raparigas com os uniformes (T-shirts, bonés e panos) de sua ideologia. Até aí, tudo previsível. Surpresa minha foi ver duas senhoras devidamente uniformizadas (T-shirts, bonés e panos) do partido UNITA, que vinham prestar solidariedade pelo passamento físico nas hostes adversárias.

Há uma imensidão de ilações que se podem tirar, incluindo a de um tio meu, que acha que “o outro” teria vindo apenas para provocação. Não foi bem o que me pareceu, quer na postura, quer nos semblantes. Arrisco em dizer que foi fairplay.

Parece que o meu regresso ao Monte Belo acaba sempre cruzando com fenómenos políticos, senão vejamos: meus pais abandonaram a comuna em 1985, à procura de sobrevivência no Lobito. Regressaríamos (não para residir, mas) para cuidar da lavra familiar em 1992, ano das primeiras e imaturas eleições, tendo saído precisamente em Agosto, quando a rivalidade entre os maiores partidos políticos angolanos ia cada vez mais volátil e o retorno à guerra civil iminente. Desde 2008 que venho tendo regressos mais frequentes, aproveitando o “advento da paz”, sem nunca pernoitar. Só o fiz nesta circunstância de óbito, que me deu a testemunhar este exercício saudável de coabitação.

É sabido que é no meio rural onde conflitos de motivação partidária mais ocorrem, quando, ironicamente, quase todos os habitantes estão ligados por laços familiares.

Outro exemplo digno de realçar está no facto de se preservar o papel dos “Vakwacisoko” (organização, classe, categoria, brigada), colectivo voluntário que cuida das tarefas mais difíceis na comunidade. Entre os ovimbundu, são os "Vakwacisoko" quem acende o lume nos óbitos, quem prepara o defunto em caso de indisponibilidade familiar, quem vai cavar a cova. Os seus integrantes gozam de prestígio. Sei, por exemplo, que não têm de justificar, caso lhes apeteça em serviço abater uma galinha, porco ou um cabrito da comunidade, cabendo ao proprietário conformar-se. É óbvio que não chegam ao extremo.

 No Monte Belo, segundo soube, basta que chegue aos ouvidos dos Vakwacisoko a ocorrência de morte, que eles cuidam logo de preparar a cova. O mais interessante é que os mais-velhos estão já a preparar a nova geração para este nível de voluntariado.

Obrigado!

Gociante Patissa, 17 de Dezembro de 2012
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sábado, 15 de dezembro de 2012

«Nda pwãi ondyangu, nda ombinda…» (não sei se é azar, ou pouca sorte…) – disse o ancião


Os velhos estão sentados à volta de uma fogueira imaginária, lugar que não abandonarão, porque não podem, na próxima vintena de horas. Está vento, vento seco e frio, como sempre no meio rural. Um dos anciãos, fazendo um à parte, expressa-se indignado pelo gesto de há pouco, quando certo jovem quase desmantelou
 a roda com a sua motorizada, ao invés de desligar o motor metros antes e sem barulho. O repúdio é consensual diante do quadro de declínio moral, mas não suficientemente frontal. Outro ancião, esperançoso, tranquiliza os demais. Dá a conhecer sobre uma festa do dia alegadamente em Luanda, pela inauguração de um tal centro que terá a missão de baixar ordens. O velho sublinha, triunfal: “Espera só, está para breve. Vamos começar a nos respeitarmos uns aos outros”. Enquanto isso, lá dentro vai alto o coro de choros femininos. Estamos no Monte Belo, comuna natal de alguém cuja prima, chará da esposa do seu chará, muda de morada amanhã, vida perdida dando vida ao seu primeiro ser aos 19 anos de idade.

Gociante Patissa 14 Dezembro de 2012
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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A idade das coisas

A partir de certa altura, procuramos viver as coisas em sua plenitude: um sorriso disperso, um suspiro cúmplice, uma promessa de carinho, uma ponta de cigarro. Aí a gente se dá conta de estar a caminhar apressadamente para a velhice. GP
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Uma mensagem transcendental

De autor desconhecido
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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Jornadas Científicas - Línguas nacionais são o espelho da cultura angolana

Texto e foto (Angop Luanda, – Os participantes nas 2ª Jornadas Científicas da Faculdade de Letras, da Universidade Agostinho Neto, destacaram hoje, quinta-feira, em Luanda, a importância do ensino das línguas nacionais no país, por serem o espelho da cultura angolana.

As 2ª Jornadas Científicas da Faculdade de Letras, que decorrem sob o lema “as letras e a transversalidade do saber”, dentre outros assuntos, discute a transmissão dos ensinamentos em línguas nacionais.

Solene Cristo, participante ao encontro, referiu que tendo em conta a importância das línguas nacionais, é necessário que sejam mais valorizadas, principalmente no seio da camada jovem.

Segundo a estudante, vários factores impedem os jovens de aprenderem as línguas nacionais, dentre eles a desvalorização pelo facto de muitos se refugiarem em outras culturas e colocarem de parte o que é angolano.

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O barco e o tempo


Vivera duas décadas e um pouco mais tentando, aspirando, a ponto de não poucas vezes arrancar a porta para ensaiá-la jangada. Um lago, vasto, insidioso, quase intransponível, estendia-se do milímetro a seguir à sua porta em diante. Morava do outro lado do lago a resposta, visível até demais para a alma, que, como bem sabemos, raramente se engana. Foi-se assim aguentando, muitas vezes resistindo à ideia de fechar os olhos, com receio mesmo do reincidente sonho. Sem dar por isso, numa noite de um dia vulgar, foi ter à sua porta um barco à vela, que tinha o defeito de só cumprir uma rota. Menos mal, pois era a mesma rota pintada a punho indelével pela sua vontade. Há músculos suficientes para remar, sem falar dos ventos a seu favor. O lago está impotente agora para impedir a viagem. Parece em si crescer, entretanto, a noção de estar cá, mais do que na outra margem, o que falta conquistar. Teria chegado tarde o barco à vela?

Gociante Patissa 13.12.12, Aeroporto 17 de Setembro, Benguela (crónica, ou conto talvez, em construção)
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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Cidade do Porto prepara sessão de "Poemas de resistência e alguns de Natal"


No próximo dia 19/12 a Poetria vai realizar mais uma sessão de poesia no Restaurante Patuá, rua da Conceição, 94 - Porto, em Portugal (próximo da livraria), pelas 22h, sobre o tema: "Poemas de resistência e alguns de Natal". Leitura por Celeste Pereira e Ana Afonso. Acompanhamento musical (violoncelo).

Para muitos de nós esta era uma época de serenidade, renovação, reconciliação com nós próprios e com os outros. Fazíamos promessas simples ou planos grandiosos para o novo ano que aí vinha.

Hoje, o desalento ameaça fazer ruir todos os sonhos, a tristeza envenena os nossos gestos e pressentimos a miséria a rondar muitos quintais.
Figuras sinistras de olhos demoníacos e papudos, sem sombra de humanidade, atormentam os nossos dias e agitam as nossas noites. O que dizem soa-nos a morte, esquecimento e indignidade.

É pois tempo de ACORDAR, e mais do que nunca, RESISTIR! Venham, tragam os vossos amigos e passem a palavra.

"Para que servem poetas 
em tempos de penúria?

"Para que servem 
tempos de penúria?" 

Adília Lopes                             
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Toda a fotografia é uma intenção

Toda a fotografia é uma intenção, que pode surgir no momento ou depois da sua captação. Vejo assim desde que em 1993 passei a estar atrás do visor, com uma zenith velha a preto-e-branco. Seria anormal saber o número de vezes que premi o botão, como seria inútil inventariar as vezes que me fascinei pelo resultado do meu próprio sentido de captação da vida. Amo a fotografia, nunca fui mais do que amador. Busco, geralmente calado, o contexto, a circunstância e a entrega de quem captou o que se me dá a apreciar. Na fotografia, como no vídeo, o boneco é sempre secundário. Mas, hoje, não me estou a reconhecer, de tantas vezes que volto a reparar uma mesma fotografia, focando no alvo, e não nos bastidores… de uma fotografia que nem de minha autoria é.
GP
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Há sempre um lado oposto

De autor desconhecido
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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Crónica: O Zé do 28, o inglês e eu no Porto

Aleija-me profundamente a mentira: a das mulheres, a dos mestres, a dos mecânicos, a dos políticos, a das crianças. Nunca fui, todavia, o primeiro a atirar pedras.

À chegada do interior, tive a felicidade de morar no morro da Quileva. Tem-se vista avantajada do coração da cidade. Cintura verde, a sul, as salinas, no centro, e o mar, a norte. Se desci o morro, foi somente atrás da máquina burocrática para questões escolares. Para lá dos jardins, uma vez na baixa, a cidade sumia, daí o desejo de logo regressar à prateleira. Por exemplo, disputávamos a titularidade de carros que víamos circularem no limite da linha do horizonte.

Em cidades singulares, as portas todas costumam dar em uma só com alma, o porto. Às marés ou aos caudais, faz-se entrada e saída, ao mesmo tempo, o cais. E é este desfile aparentemente desconexo dos navios que adensa na história do meu Lobito o fio.

Com a greve dos professores, foram três meses de tédio, agora no bairro da Santa-Cruz, zona com vista limitada, sem o televisor em casa, que por sua vez somava meses no conserto. Tudo levava a crer que o eletrotécnico não despacharia o trabalho sem a paga, posição quanto a nós injusta, porquanto o dinheiro que lhe faltava a ele faltava-nos a nós também. Estamos em 1995, e a presença, às centenas, de capacetes azuis da ONU e demais agências humanitárias ilustravam bem o quadro de penúria que o país vivia.

Não me ocorrendo a posição do pai, decidimos entre irmãos tirar proveito da ONU. Coube-me a missão de juntar a coragem ao meu arrojado inglês e comercializar, do tipo zunga, as estátuas de madeira lá de casa. Arrecadaríamos 55 USD, o equivalente a dois salários de professor. Em vão. O televisor já tinha sido extraviado.

O contacto com os capacetes azuis era fruto proibido em certos quarteis. Recordo-me de quando o Eliseu viu seu negócio retido no Hotel Términus. Mais conversa, menos conversa, prometeu-se subornar o guarda angolano, penhorando o Bilhete de Identidade. Parvo do guarda, já que ficava sempre mais fácil tratar outra via do documento.

Lá conheci o Zé, mais novo e mais alto do que eu. Até em sua casa, no 28 (Zona Comercial), cheguei a beber água. Impressionava ver-me falar “fluentemente” com os estrangeiros, ganhando uma vez ou outra desde livros, cassetes, a produtos de higiene. Foi o Zé quem decidiu levar-me ao Porto do Lobito, onde esteve naquele dia navio britânico da ONU. Atleta de basquetebol na escola da Casa do Pessoal, o Zé passava pelo portão sete como água pela garganta. Como entraria eu?

O Zé instruiu-me a dizer ao polícia que iria ter com o guindasteiro Frederico Carlos, meu pai. O polícia fitou-me, e autorizou. Ainda melhor, disse para voltar a ter com ele, caso alguém me molestasse. Tinha resultado! Antes de degustarmos as iguarias do navio, observei ao longe o guindasteiro. De facto, tínhamos algumas semelhanças, no tom de pele ligeiramente clara e no semblante aparentemente “mentalista”, enfim.

Hoje, o Zé é um homem feito, fazendo carreira como professor de educação física em colégios. Um dia desses lhe lembro daquela emocionante aventura, todavia reprovável.

Gociante Patissa, Benguela 11 Dezembro 2012.
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Citações e sincronias

“Conservar a tradição é consumir o fogo, não as cinzas”, a frase foi atribuída a Mahler por um arquitecto italiano, conferencista aos 81 anos, entrevistado pelo canal português, Sic, a 11/12/12.

Na mesma linha achei na Internet que…

“Preservar a tradição não é conservar as cinzas, é soprar a brasa, é vigiar para que o fogo continue aceso, iluminando. Da tradição, do passado, nós devemos nos apoderar do fogo, não da cinza”, atribuído a o socialista francês Jean Jaurés pelo site http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=6, num artigo de José Ribamar Bessa Freire datado de 09/08/2009.

Talvez seja um reeditar de sabedoria popular, de si uma evidência para conservarmos o fogo que há nas tradições de cada povo. Um bom dia.
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domingo, 9 de dezembro de 2012

Domingo despede-se chovendo. Amanhã é dia de estatísticas.
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sábado, 8 de dezembro de 2012

Ruído na comunicação: Wanda é com u ou com v?

Passam das 10 horas da manhã. É domingo. Pessoas normais estarão a caminho da praia, a visitar parentes, ou na cama em ressaca, não ligadas ao telefone fixo com discurso repetido para uma lista com mais de 80 nomes. Mas tem de ser, e é comigo:

"Aló", atende-me uma voz feminina. 
"Sim, bom dia. Ligo da empresa X para confirmar se a senhora vai usar
o serviço que reservou para hoje. Falo com a senhora Wanda?"

Do outro lado da linha, a senhora não se contém. Rebenta mesmo uma risada com sabor a sarcasmo. Estou calmo e deixo a senhora rir-se às custas do meu ouvido. Instantes depois, satisfeita talvez por lavar a alma, ela confirma, corrigindo:
"/Uanda/? /Vanda/! Sim, sou eu. Vou usar".

Não sou pago para discutir sociolinguística com os clientes. Aliás, pouca utilidade há para pensar, de tão autómatas que certas missões são, pelo que agradeço a atenção e deixo um até logo.

Agora, no intervalo entre uma chamada e outra, quem ri sou eu. Sim, porque em Umbundu, língua nacional predominante no centro e sul do país chamado Angola, e em particular em Benguela, "owanda", ou simplesmente "wanda" [uanda], significa rede. É um nome que se dá a crianças que surgem depois de o casal ter perdido outros filhos. É como metáfora a dizer que a rede da morte poderá arrastar esse recém-nascido também. E a pessoa cresce com aquele nome. Para a minha interlocutora, de certeza, só existe uma forma, Wanda que se lê com /v/.

Já lá vão uns três anos e não sei como fui pensar logo hoje em ruídos na comunicação.

Gociante Patissa, Benguela, 08.12.12
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Quem faz arte seria ilusionista?

Montagem de autor desconhecido
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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

"Nos Bastidores do Reino[A Vida Secreta na Igreja Universal"

Seguindo notas do amigo Marcolino, cheguei ao PDF do livro "Nos Bastidores do Reino[A Vida Secreta na Igreja Universal". Ainda não o li por falta de tempo, mas partilho aqui o link. "A verdade vos libertará", sei quem o diz é própria a bíblia...

http://images.novaconsciencia.multiply.multiplycontent.com/attachment/0/SobmKwoKCGAAAGB4um81/Mario%20Justino%20-%20Nos%20Bastidores%20do%20Reino.pdf?nmid=275200957
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Filosofia de fim do sono

Veio-me, naquele inconclusivo sonho que antecede o fim do sono para lá das seis, uma estranha reminiscência das aulas de Filosofia no Puniv de 1996. Pitágoras, Anaximandro, Protágoras, Sócrates, Platão, a maiéutica, o sofisma, o silogismo, e, claro está, o seu arauto, o "mestre" Ir. Zezito. Devia ser dos porquês e para quês, produtos derivados de uma chuva que musicava o tecto de lusalite e o cheiro a chão. Chave na ignição a caminho do patrão. Bom dia
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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Surreal

«Hoje em dia a violência está tanta, que você sai para assaltar e volta mais pobre ainda. A gente não pode nem levar a vida desonestamente». - Maurício Ferro “Bagulinho” (cidadão brasileiro que foi roubado pouco depois de ter assaltado uma farmácia)

Ver vídeo aqui
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Joyous Celebration - "Tshala"


A essência da letra, traduzida para Inglês segundo comentário ao vídeo, é:
"sow with your tears, do not tire, the lord hears and sees you. and you shall harvest more than you will be able to comprehend. you will be crowned with the crown forevermore. stay on the lord. stay on the lord do no be tempted do not tire. the lord hears you, the lord sees you."
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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Deixar de fumar é possível, garante médico

ao que tudo indica, ditador carismático

No programa "Boa Tarde", da Sic (Portugal), falam neste momento sobre deixar de fumar. Sim, é possível, realça o médico convidado. Falaram umas três senhoras dando o testemunho afirmativo. Falou também outra senhora que diz ter conseguido alguma vez deixar de fumar por (apenas) três semanas. 

Segundo o médico, aqueles que experimentam fumar em grupo de adolescentes têm maior probabilidade se tornarem fumadores de facto, ao passo que quem começa sozinho tem bem menos hipóteses. Agora me lembro de uma conversa entre mãe (acima de 50 anos) e filho (maior de 30 anos). Confrontada com mais um pedido do filho para deixar de fumar, minha avó respondeu: "antes de aceitar o teu pai, eu já fumava". Parece que a motivação supera os pensos, acupuncturas e outras formas para largar o vício, não é?!

Gociante Patissa
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Vamos lá

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‎"Se fosse sempre assim, rapidinho, a pessoa até ficava contente" (um jovem, quando saía do banco esta manhã no Lobito)
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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Lá está

Autor desconhecido
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Espistemologia do conforto

Saltou-me à vista há pouco o slogan de certo painel publicitário. "O seu conforto seguro", dizia. Até hoje, tenho associado conforto à segurança. Vejo que o melhor é passar a desconfiar daqui para frente em situação de conforto.
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domingo, 2 de dezembro de 2012

Praias do Lobito registam mais uma morte por afogamento

Foto do nosso arquivo

Um rapaz de 11 anos de idade morreu afogado por volta do meio-dia de ontem (01/12/12) na praia do Lobito-Velho, segundo fonte do Blogue Angodebates ligada ao Serviço Nacional dos Bombeiros e Protecção Civil. O corpo não foi ainda devolvido pelo mar.

A vítima morava no bairro da Bela-Vista, Zona Alta da cidade do Lobito, e fazia-se acompanhar de dois amigos a bordo de uma canoa, prática rotineira todavia para menores que moram à beira-mar (como ilustra a foto de arquivo). Não ficou especificado se estavam a pescar ou a dar voltas pelo mar apenas. Segundo a nossa fonte, o Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, que só tomou conhecimento cinco horas depois, tem nadadores-salvadores apenas em zonas balneares, o que não é o caso do Lobito-Velho, por ser essencialmente uma zona de pesca.

Note-se que o último caso de afogamento que o Blogue Angodebates noticiou ocorreu a 30 de Junho passado. Fica outra vez o alerta: todo o cuidado é necessário ao lidarmos com o mar. As boias de salvamento devem ser de uso obrigatório.

Gociante Patissa, Lobito 2 Dezembro 2012

Actualização: corpo já apareceu. Foi encontrado por volta das 14 horas de hoje (02/12/12)
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sábado, 1 de dezembro de 2012

Crónica: Os absurdos do professor de EVP


A folha de prova era o único laboratório funcional que algumas escolas possuíam. Foi assim que a escolaridade de muitos de nós ficou marcada, fosse química, biologia ou física. Cheguei a conhecer permanganato de potássio, só de ver à distância, uma espécie de comprimido escuro. Para que serve? Olha, já nem me lembro. Serve mesmo para quê?!

Conheço pessoas que tiveram a nota final de 20 valores, a máxima que o sistema de ensino prevê, em programação de computadores na década de 1990. Obtiveram ricas notas no certificado e na defesa de tese de conclusão de curso no Instituto Médio Industrial de Benguela, sem que tivessem chegado a um metro sequer do aparelho. Como digo, era só teoria, que tinha como campo de ensaio a folha de prova. Agora que penso nisso, noto que o meu fascínio com a palavra não é de agora (tal como não é de agora a minha estrondosa fraqueza em contas).

Bem, acontecia então, como não podia deixar de ser, agigantarmos o nosso campo léxico com vocábulos, uns mais agradáveis de pronunciar que outros. Aos 15 anos de idade, frequentando a 8ª classe numa escola da Catumbela, eu viria a aprender um que me marcou até hoje. Foi quando o professor de Educação Visual e Plástica (EVP) pediu que comentássemos determinada afirmação. Na verdade, tratou-se de uma ideia que negava precisamente um teorema científico de desenho técnico que nos havia sido ensinado naquela mesma semana. “Isto é um absurdo”, escrevi eu, não fosse o novo vocábulo ficar sem uso.

O professor é que não achou piada alguma. Quando recebi a prova, estranhei o exagero de riscos a vermelho. Curioso para ver a nota, reparei que dos iniciais 12 valores, a classificação estava reduzida para oito, com uma observação furiosíssima: “Meça a tua língua, não estás a falar com o teu pai!”. Eu disse comigo mesmo: com todo o respeito, há aqui um parafuso solto na cachola do professor.

Primeiro, ele tinha-nos ensinado a medir esquadria, circunferências, rectângulos, quadrados  – nunca houve aulas de medir língua de quem quer que fosse. Por acaso nem sei se isso era para se fazer com régua, ou com um transferidor, ou mesmo com fita métrica, que lá em casa tínhamos uma de alfaiate. Segundo, como iria experimentar com o meu pai um “absurdo!” que nunca me ensinou? Então, ele, que tinha já muito com que se preocupar, iria agora ser cobaia para vocábulos paridos pela escola? Que “absurdo!”

Gociante Patissa, Benguela, 1 Dezembro 2012
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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Nota de Imprensa - Poetas angolanos em Vila Nova de Famalicão

J. Maimona (foto: Jornal Cultura)
A. Paxe (foto de autor
desconhecido)
Os poetas João Maimona e Abreu Paxe participam, nos dias 30 de Novembro e 1 de Dezembro de 2012, de RAIS POÈTICAS, a convite da Presidência da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão que o organiza.
Sob a Curadoria de Luís Filipe Serguilha, Jorge Velhote e a ter lugar na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco em V N de Famalicão, RAIAS POÈTICAS – Afluentes Ibero-Afro-Americanos de arte e pensamento é um encontro de poetas, artistas e professores que surge como agente potencializador da criatividade artística, do pensamento como experiência dançante, da interrelacionalidade, da sismologia das sensações, das mutabilidades, das correntezas transfronteiriças das línguas poéticas Ibero-Afro-Americanas e dos movimentos giratórios da interrogação estética.

RAIAS POÈTICAS surge também como elemento de aproximação da diversidade das resistências vivas das geografias do Nomadismo, das intensidades migratórias e das heterogeneidades dos fluxos cortantes; outro eixo de vocação de RAIAS POÈTICAS consiste também em projetar as multiplicidades, a profusão das diferenças, os segmentos dos entre cruzamentos, criando uma zona de vozes singulares, vozes-devires.

Abreu Paxe, poeta, ensaísta e docente universitário, é autor de “A Chave no Repouso da Porta (Poesia, 2003)” prémio literário António Jacinto em 2003 e “O Vento Fede de Luz (Poesia, 2007)”.
João Maimona, poeta ensaísta e dramaturgo com obra considerável é prémio literário Sagrada Esperança por duas ocasiões com as obras “Trajectória Obliteradas (Poesia, 1984) e Idade das Palavras (Poesia, 1996)” É detentor da Medalha de Bronze do Concurso Internacional de Poesia, organizado pela Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, 1987.

João Maimona e Abreu Paxe, Curadores da Bienal Internacional de Poesia de Luanda, juntam-se, neste evento, a Poetas, Artistas e Professores de Portugal, Brasil, Moçambique e Espanha, marcando presença em Dobras de Pensamento “mesas-redondas” e Raias Sonoras “Leituras de Poesia”.
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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Opinião: Uso obrigatório de capacete, é por aí que devíamos atacar?

Em 2008, um oficial da Polícia de Viação e Trânsito disse durante,
um debate por mim moderado, que "quatro em cada 
10 acidentes
 envolvem um kupapata (taxi motorizada)

Acompanho e apoio o compromisso das autoridades no combate à sinistralidade rodoviária. Já quanto às estratégias para se lá chegar, sinto-me no direito de questionar a pertinência destas quando a consciência assim o manda.

Resido na cidade de Benguela, que é das que registam em maior escala o serviço de mototáxi, vulgarmente conhecido como “kupapata” (motorizadas de marca Delop, 50 cmᵌ). E como observador, acrescento que a estrada que leva ao meu bairro é das que mais acidentes registam, acabando em perda de vidas humanas, quase que mensalmente. Refiro-me ao perímetro que vai do CRM ao aeroporto 17 de Setembro.

Relançada a campanha “Use o Capacete”, vimos acompanhando pela imprensa pronunciamentos de oficiais da Polícia Nacional alertando para breve o reforço de medidas coercivas. É bom lembrar que a mais recente polémica sobre a obrigatoriedade do uso do capacete, não apenas pelo condutor, mas também pelo cliente, data de 2008. A caminho de cinco anos, a questão que se impõe é: que há de diferente na aplicação de tal medida desta vez e que faltou em ocasiões anteriores?

Como automobilista, digo que não é a falta de capacete o problema principal. Longe de minimizar a importância daquele equipamento de protecção individual, realcemos, todavia, que há uma sequência de erros e lacunas que levam ao acidente. O que pretendemos proteger com o capacete é a vida, é certo, mas até chegarmos a esse ponto, já uma cadeia de conhecimentos, conduta e questões de comunicação foi quebrada.

Os “nossos” kupapatas, via de regra, desconhecem a noção de eixo da via. Sobre a rotunda, ocupam a faixa de dentro, quando desejam seguir adiante, logo a seguir mudam de faixa, sem considerar os sinais luminosos; andam cada vez mais fora de mão, por vezes desrespeitando o semáforo; retiram os retrovisores de suas morotizadas, o que os coloca em risco, pois calculam mal nas ultrapassagens o espaço entre veículos em movimento; não priorizam os travões, mesmo dentro das localidades, protegidos que se julgam pelo abuso das buzinas. Resumindo, os “nossos” kupapatas dão poucas garantias de dominarem noções elementares do código de estrada. Comprada a motorizada, basta-lhes saber que o polícia é azul e que a estrada é preta, creio.

Compreendo a necessidade que a Polícia Nacional e o governo de modo mais alargado sentem no sentido de controlar a situação. Mas penso que outras abordagens devem caminhar ao lado destas medidas coercivas, sob pena de continuarem sem efeito.

Como é feita a atribuição de licenças de condução? O que faz a Amotrang (que podia promover sessões de capacitação dos seus membros, enquanto interlocutora perante o governo)? Como será feita essa apreensão, tendo em conta a propensão que o kupapata tem de esquivar o polícia de trânsito? E para os outros, filhos de gente endinheirada, que vivem de “rachas”, “chutos” e “colagens”, haverá brigada especial?

Julgo que a sinistralidade rodoviária é reflexo da fraca moralidade social que assola o país, onde o desconhecimento e negligência andam abraçados. Há que reforçar, não só a prevenção e a punição, mas também o aprimoramento dos mecanismos de capacitação.

Gociante Patissa, Benguela, 28.11.12
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Opinião: "Deixem o Celso em paz" – Raul Danda

Texto e foto: Club-k - Estava aqui a pensar na acção que a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) estará a mover contra o nosso amigo Celso Malavoloneke, e resolvi emitir aqui a minha opinião. Eu revejo-me nas preocupações/perguntas que o Celso levanta por julgar que têm toda a legitimidade e toda a razão de ser. Peço desde já perdão a todos os irmãos (em Cristo e de Pátria) ligados à IURD, mas eu próprio tenho pensado seriamente se escrevo alguma coisa sobre essa igreja. 

Desde logo, se concordamos que quem faz milagres é Deus e não os homens, em definitivo, porque razão a IURD cobra esses "milagres" que ali ocorrem? Vou "postar" aqui um pequeno episódio. 


Um camarada meu, cujo nome não vou obviamente aqui revelar, fervoroso "militante" da IURD, solteiro, apaixonou-se por uma "irmã" da mesma Igreja. A relação foi comunicada às instâncias "dirigentes" da IURD que, mesmo sabendo que a menina era seropositiva, nada disse ao meu camarada. 

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A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

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