domingo, 20 de dezembro de 2009

Administração Municipal de Benguela exige venda apenas em locais oficiais / Fiscais acentuam medidas coercivas para desencorajar zungueiros


Meses após a sua inauguração, o número de feirantes no Mercado Municipal é de longe inferior ao de vendedores ambulantes, vulgo zungueiros. Só um estudo explicaria melhor as causas de tal fenómeno e consequente solução, mas quem não quer esperar é a Administração Municipal de Benguela, que já se manifestou indignada. Não ficando por isso, fiscais da Administração têm acentuado a sua actividade coerciva, com as habituais corridas aos vendedores ambulantes, de modo a convencê-los a praticarem a sua actividade unicamente em locais oficiais.

Vende-se tudo na zunga literalmente. Centenas de homens, mulheres e crianças vêm na venda ambulante o ganha-pão. E a “profissão” capta maior empatia social pela imagem de mulheres aos pregões, com bebés ao colo e bacias de legumes e hortaliças à cabeça. Estas mesmas mulheres são acusadas, e com razão, de contribuírem pouco para a higiene da cidade, quer pelo lixo resultante dos seus produtos, quer pelo abandono deliberado frequente de descartáveis com dejectos dos petizes. Outro ângulo da preocupação tem a ver com a legalidade do que se vende, por exemplo discos pirateados, ou dos riscos à saúde pública, como no caso de medicamentos.

Se, por um lado, é legítima a actuação da Administração Municipal de Benguela no sentido de velar pela legalidade e postura, já por outro, não deixam de ser oportunas as seguintes indagações: os zungueiros preferem a rua porque o citadino não vai ao mercado, ou este não vai ao mercado porque o zungueiro já é acessível na rua? Seriam as medidas coercivas uma saída fértil, ou o melhor seria repensar os critérios de legalização da venda ambulante?

Desafios de quem anda na zunga contados por quem os enfrenta

António Pomba é vendedor ambulante há dois anos «para sustentar minimamente as crianças». Diz que o seu rendimento depende dos salários da função pública. Faz o que pode para custear os encargos escolares dos filhos «da primeira até quarta classes», mais adiante é impossível. Questionado se está satisfeito pelo trabalho que faz, Pomba disse: «isso aqui é simplesmente para remediar, porque não há emprego. Este é um trabalho de risco, por exemplo aqui há muita poeira, mas, como não tenho mais outro sítio, estou mesmo a remediar aqui».

Ao microfone do repórter Florentino Calei também falou a cidadã que se identificou pelo nome de Caty. Vende fraldas descartáveis há cinco anos. Com o trabalho que faz, disse, «não estou satisfeita porque isso dá muito trabalho, a pessoa sai de manhã [6h30] e volta à tarde [18h30], muito cansada. Nós aqui não temos lugar de vender, quando a pessoa ocupa, vem outra pessoa a dizer que o lugar é dela». Se acompanha os filhos à escola, ela confessa: «não vou a tempo de levar as crianças à escola, só se tiver em casa uma criança já grande para levar as outras». Victorino Chombossi zunga eléctrodos e grampos de metal. É dos que abandonaram o mercado do “Mbangu-mbangu”, no morro do Lobito, em função da pouca clientela, ao contrário de quando o mercado do Chapanguele funcionava ao Bairro Africano. «A distância é muita, porque a pessoas sai da cidade e gasta Kz 200 e ganha preguiça. A pessoa passava um dia sem conseguir vender um Kz 100», justifica. E conta as razões que o levaram ao comércio informal: «Faço este serviço porque pessoalmente fui tropa e, quando vim da tropa, já sabe, emprego não aparece. Porque certas pessoas que cumpriram a tropa não têm formação».

Venda ambulante é prevista por lei, mas feita ilegalmente

Segundo Luciano Anselmo, que representava no programa “Viver para Vencer” a Direcção Provincial do Ministério do Comércio, no passado dia 17/11, a venda ambulante não é necessariamente ilegal em Angola, só que é largamente praticada de forma ilegal. Os cartões de vendedor ambulante podem ser adquiridos através de um processo que inicia nas administrações municipais e se consolida com o pagamento regular de impostos. Perante tal constatação, o programa “Viver para Vencer” procurou saber de Luciano Anselmo se a Direcção do Comércio tem algum plano no sentido de campanhas de mobilização dos cidadãos para a necessidade de legalizar sua actividade na venda ambulante. Mas tudo indica que não.

(actualizado) Gociante Patissa, Benguela 8 Novembro 2009
Share:

3 Deixe o seu comentário:

AFRICA EM POESIA disse...

Meu Amigo
Recebi a mensagem
já respondipara o teu mail,
Fiquei feliz pela resposta.
um beijo

Amélia Ribeiro disse...

Olá AMIGO PATISSA!

Que neste Natal, nem que seja por um momento, as pessoas acreditem que vale a pena transformar cada lágrima num sorriso, a amargura em alegria e cada coração numa casa aberta para receber a todos, especialmente os mais frágeis.
Então sim, vale a pena viver um Ano Novo!

Feliz Natal junto dos que mais amas, com muita Saúde, e uma vida cheia de pequenos momentos...!

Tu fazes a diferença!

Um beijo!

Tua Amiga

Amélia Costa

Unknown disse...

É bom, antes de se fazer cumprir uma Lei, pensar na realidade. Penso que se deve em primeiro lugar reeducar tanto os vendedores ambulantes como os consumidores dos produtos ambulantes. Não é de todo saudável terminar com o que de belo há na venda ambulante. A cidade de Benguela tem a seus pés a venda ambulante à mais de 50 anos. É histórico já. Então eduquem-se as pessoas. Fazer cursinhos de higiene e segurnça alimentar e no trabalho, é um bem para todos. A higiene das ruas também. A EDUCAÇÂO não significa o uso da força. O uso da força só depois da reabilitação educacional.
Se for exercida antes parece-me mais com a falta de profissionalismo e de Liberdade de escolha.
E mais não acrescento
Bem Hajas
Um abraço
São

A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

Publicações arquivadas