sexta-feira, 31 de julho de 2009

Opinião: Há abordagens menos chatas do que “A mulher africana é bonita”

Afinal hoje é (outra vez) dias das mulheres?! Juro que não constava da minha agenda para a sexta-feira de folga. Mas a manhã nasceu de forma diferente, o habitual raio do sol pela janela foi antecedido por uma barulheira, que vinha da escola perto de casa. Eram estudantes empolgadíssimos em actividade de limpeza para comemorar o dia da mulher africana.

Confesso que não me revejo em tantos “holidays” em prol da mulher, que mais me parecem uma criação dos homens para mostrarem que são generosos. Bom, é melhor não ir por aí antes de exercitar a pesquisa sobre as razões de mais este dia santo, quando o mês todo de Março já é dedicado à mulher. E não pensem que são ciúmes, só porque não há mês que inicie com “H”, para ser mês dos Homens também. Aliás, já disse certo machista que os homens não precisam de ministério específico nem de dias para serem honrados porque cada um é ministro todos os dias (até os de casas demolidas).

Pondo de parte as brincadeiras (de mau gosto?), o que me farta mesmo é a abordagem. Até quando a sociedade angolana vai cultivar esta coisa de pensar que homenagear a mulher africana é obrigatoriamente dizer que “é bonita”, “tem beleza rara”? Esse tipo de mulher objecto, que só existe em função da beleza, essa mulher oca não me interessa. Conheço mulheres, como a minha mãe entre outras, que priorizam o trabalho, a dedicação aos filhos, e até a alfabetização para compensarem o tempo perdido sem estudar, de modo a reforçar o intelecto.

A mulher angolana não se deveria alegrar com esse paradigma que a valoriza (apenas) em função da sensualidade, que significa, geralmente, estar à altura de atrair homens. É mais do que óbvio: a beleza humana não é uma questão de geografia, o contrário são apenas resquícios da época medieval.

Acho que podíamos estimular outras virtudes da “nossa” mulher, como o intelecto, a capacidade de afirmação social, onde o conceito “cultura” vai além de “abanar o rabo” ao som do ku-duro ou da tarrachinha (adoçados por estúpidos "beefs").

Para essas mulheres, na cidade ou no campo, àquelas que batalham, fica a nossa homenagem!
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Gociante Patissa, Benguela 31 Julho 2009
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terça-feira, 28 de julho de 2009

Vila do Bocoio completou ontem 51 anos de existência

Bocoio vestiu-se linda no dia do seu 51º aniversário. O içar da bandeira na administração municipal e o acender do facho marcaram o início do vasto programa de comemorações, que incluiu culto ecuménico, exibição de jograis e teatro, bem como a apresentação do livro “Consulado do Vazio”, cujo autor é filho do Bocoio. A recém-empossada administradora municipal, Deolinda Valiangula, ofereceu um almoço simbólico no jango do palácio, que juntou munícipes, governantes, entidades religiosas, políticos, artistas e amigos da vila. A festa estendeu-se noite adentro com um espectáculo musical que teve como cartaz César Cangue, Kamaka e Sukumula.

Geograficamente, o município do Bocoio localiza-se a nordeste da província de Benguela, a 106 quilómetros da cidade capital, 75 km a Oeste da cidade ferro-portuária do Lobito e 75 km a leste do município do Balombo. Já a norte, dista 109 km da sede da província do Kwanza-sul, a sul faz fronteira com os municípios do Cubal e Ganda. Seu clima é tropical seco com duas estações climáticas, quente com precipitação e frio com cacimbo. A superfície é de 5.512 Km2 com uma população estimada em 163.714 habitantes.

O município do Bocoio, outrora “Vila Sousa Lara”, com a sua sede Tchissandji, fundada em 1827 pelo Sr. Fernando, primeiro chefe do posto administrativo, tem cinco comunas: Monte-Belo (Utue Wombua), fundada a 15 de Dezembro de 1955, fica a 31 km da sede. Chila (fundada a 20 de Maio de 1925) dista 68 km da sede, Cubal-do- Lumbo foi fundada a 15 de Junho de 1963, enquanto que a comuna do Passe foi fundada a 15 de Junho de 1964.Segundo dados do sector da Cultura do governo municipal, o topónimo Bocoio tem na sua origem o facto de antigamente os viajantes, nas suas deslocações do interior para o litoral e vice-versa, colherem o gindungo denominado “mbokoio”.
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segunda-feira, 20 de julho de 2009

Crónica: “Os direitos humanos do cão”


A banalidade dos assuntos é relativa, a inalienabilidade dos direitos também.

Man’Filas é kota já, angolano de pai e mãe. É fixe, mesmo que alguns se assustem porque ele quase nunca ri – o espelho é que lhe disse um dia que ficaria feio pela falta de dois dentes logo à entrada da boca. Então, mas é obrigatório rir para ser simpático?! Se nasceu (ou não) quando, isso não importa.

Man’Filas nunca tratou ninguém por “cão!” nem por “cadela!”, porque – e todo o africano sabe disso! – boca de mais velho pode até ter dentes podres, mas dela sai sempre sabedoria. Aliás, ele já ouviu várias vezes a metáfora “tu és um cão, aquela gaja é uma cadela!”, algo que nunca conseguiu digerir. Às vezes parece que tem razão ao considerar injusto o rótulo de “cadela!” a eventual mulher promíscua ou com excessiva frequência na prática do sexo – já que cadela só pratica coito quando está no período fértil, portanto nada de “fornicar” por passatempo (ou desporto, há quem o diga). Bom, são ideias dele e é melhor não se meter!

Ora, se pessoa tem direito a não ser aviltada, neste caso da cadela fica só assim?! Bom, talvez não seja sensato recorrer ao vector da igualdade de circunstâncias, afinal, pessoa é pessoa, cão é cão! Eis um debate constante no secretismo da imaginação do Man’Filas.

A amizade entre o homem e o cão tem a idade do preto-e-branco da zebra. Man’Filas até gosta da lealdade do cão, que no rigor da palavra é raríssima entre os humanos para consigo mesmos, mas ainda assim o cão é inferior ao ser humano. Tanto que, sendo o homem malfeitor rotulado de “cão!” como sanção, já o contrário não é válido; cão virtuoso não é chamado “pessoa!” como recompensa.

A guerra é um parágrafo transversal na história de cada angolano. Man’Filas também foi valoroso combatente durante o conflito armado. Mas não foi o patriotismo que o moveu. Ele apresentou-se (voluntariamente?) revoltado pelo repto “só restará civil de cão, quem não quiser ir à tropa terá de retroceder ao ventre da sua mãe”. Recuamos aos anos 80 e dizem ser Kundy Paihama o autor do repto, na época comissário provincial de Benguela (bom, já disse tanta coisa o mais velho, que meter mais uma palavra na boca dele não custa nada…). Pior que isso foi suportar a recruta, onde se ouvia dos instrutores que um mancebo estava abaixo de cão morto.

As eleições de 1992 viriam resultar num fracasso (impossível de esquecer, chato de lembrar) com profundas implicações, entre as quais uma dramática penúria alimentar… E foram surgindo as ONG’s internacionais, e com elas as nacionais. Man’Filas, cujo fundo nunca já chegou para as propinas escolares, quanto mais para passagem para as estranjas!, abraçou a causa do aprender-fazendo! E não se surpreendeu poucas vezes enquanto acompanhou a escola de futebol infanto-juvenil do francês Jacques (logístico da CRS) no Compão. É que, no estágio, os atletas jantavam às vezes leite com sanduíche mista, quando os cães monopolizavam massa guisada com carne, entre outras iguarias… muito longe do paradigma carne-para-gente, ossos-para-cães! Aonde vamos parar?, indagava-se. Será que chegaremos neste século 21 a ver cães comendo à mesa?!, continuava.

O aprender-fazendo é a magia que potencia o pessoal envolvido no sector da sociedade civil, que ganha aqui em workshops e seminários o know-how vindo das universidades de lá. E o bom das ONG’s é ainda a sensação de liberdade/autoridade, acrescida à automática busca pela justiça em prol dos que não têm voz. Mas a oportunidade e a visibilidade fizeram surgir uma espécie de “elite”, composta por intelectuais (voluntários?) tentados a brilharem mais que a causa defendida através de acções directas de advocacia social.

Tarde de 11 de Setembro. Para trás ficava o quintal da embaixadora dos Estados Unidos, após a cerimónia da assinatura do acordo de financiamento de micro-projecto. O Land-cruiser serpenteava no engarrafamento luandense a caminho da “província”. Uma breve paragem impunha-se para visita de cortesia a uma excelente assessora. Uma vez lá, Man’Filas torcia o nariz ao som incoerente da gaita do marido, que era uma "ilha" na sala. E veio o cão, com aquele aspecto feroz de cães de ricos, sem no entanto alterar a descontracção da conversa. Às tantas, o dono da casa, por sinal um distinto activista social, quebra as torres: "aí vocês estão sentados no lugar dele". Pela primeira vez na vida, Man’Filas via-se obrigado a ceder o sofá ao cão, ocupando outro assento.

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Mais uma lição aprendida: afinal, Direitos Humanos (do cão) são liberdades que as pessoas têm pelo facto de serem pessoas (ou cães).

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Gociante Patissa, aeroporto da Catumbela/bairro da Fronteira, Benguela, 20 Julho 2009


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domingo, 19 de julho de 2009

Simplesmente fora do contexto

ordem, conjugação na 3ª pessoa subentendida... ou gralha?
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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Uma homangem ao Cine Monumental Teatro

"Cinema Monumental Teatro", o palco obrigatório do teatro exibido na cidade de Benguela. Actualmente explorado pelo antigo futebolista da selecção nacional, Jony, costuma acolher, entre outras manifestações, música, dança e desfiles diversos.

Se, por um lado, o Monumental enquanto palco viaja no tempo - porque o teatro tem desse milagre em função do contexto da peça a retratar - por outro, a infra-estrutura está cada vez mais caduca. Daí que o Blog Angodebates esteja a advogar no sentido de as autoridades incluírem, nas prioridades orçamentais dos próximos anos, não só o Monumental mas também O Beneficente (Catumbela) e o Imperium (Lobito). Isso, considerando que a arrecadarem os cerca de 30 mil kwanzas por actividade, como acontece actualmente, nada de substancial se consegue para evitar a progressiva degradação.

Como já referido, as casas de cinema ora citadas vão dando jeito, granjeando de remedeio em remedeio simpatia e afecto. Por exemplo, quando vemos um talento de Benguela singrar, geralmente nas telas da TV em Luanda, ocorre-nos que já passou pelo monumental e/ou pelo Imperium.

E foi com satisfação que vimos, através do programa Dia a Dia da TPA-2, extractos do filme "As Malditas Flores", com Gienda Francisco no papel principal. Gienda, a rapariga do grupo teatral "Twayovoka" que optou pela capital do país para estudar, reaparece com agradável surpresa. O filme, que se destaca pela raridade de ser totalmente em mímica (a estilo Charles Chaplim), foi descrito pelo seu realizador que "não é comercial, mas sim totalmente artístico". Com suporte técnico da produtora angolana Dreadlocks, já conquistou distinção de um festival internacional de cinema recentemente realizado. Como vimos, não há diálogo entre as personagens, excepto locução off, e tem legenda (dublagem) em Inglês, o que reforça o seu carácter universal.

Sabemos que é pouca, no entanto é inadiável a nossa homenagem ao Cine Monumental (em cujo palco esse servo por acaso já pisou como trovador).
Gociante Patissa
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poemas do meu dorso: "Legendas-imprensa"


Tratamos
cadáveres
servimos
frescos
urgência
(hospital)
reciclamos
homens, mulheres e crianças
ideais
juventude
sonhos
fora do prazo
(manicómio)
terrenos
de futuro
Dubai
nos céus
prestação
decimal
ao mês
aqui
condomínios
celestiais
(igreja)
ocupado
reservado
democracia
futuras instalações
esperança
obra embargada
liberdade
crescimento
roubo qualificado
reconstrução
assalto à mão armada
formação
último modelo
violação
esperança
(Angola)
...
Gociante Patissa, Benguela 16 Julho 2009
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segunda-feira, 13 de julho de 2009

Crónica: “Dr. Xia” no Lubango já tem telemóvel

“Nothing ever goes to plan”, disse-me certa vez um cidadão britânico a quem na ocasião servi como tradutor/intérprete. A frase, ironicamente óbvia, vem-me sempre à imaginação quando algo não sai como planificado.

Estava de volta no Lubango, já não como “simples” turista, mas como alguém que levava proposta literária. A própria viagem conheceu solavancos, mas teve de acontecer ou não tivesse já consumido quinze dos trinta dias de férias (Maio 2009).

Contrariamente à experiência do Huambo, em que dois amigos se encarregaram dos preparativos do lançamento do “Consulado do Vazio” (meu poemário de estreia) antes da chegada, estava literalmente sozinho no Lubango. E, como é de imaginar, a cidade torna-se excessivamente extensa quando você precisa de localizar as instituições (a pé).

Uns telefonemas pareciam ser a solução. E foram até certo ponto, tendo conseguido contactos de alguns poetas/declamadores, cujo tempo devia ser precioso demais para dispensar a um escritor iniciante/desconhecido. Trato então de esclarecer que só queria um contacto pessoal a fim de ler o “comportamento” da gente do "Cristo Rei", portanto já dominava os bastidores de cerimónias de lançamento de livro (depois de Benguela e Huambo).

Mas como há sempre um pouco de doçura na taça de amargura, um dos poetas me passa o número do Dr. Xia, representante da Brigada Jovem de Literatura. Mas… valeria a pena contactá-lo quando eu não sou membro da Brigada?

Tinha vaga ideia do Dr. Xia (já ouvi que tinha aversão à ideia de ter um telemóvel). Por isso, foi inevitável a ansiedade que antecedeu o aperto de mãos com o "mítico docente de Filosofia" desde o telefonem em que ele confirmou estar à minha espera no Departamento de Ciências Sociais do Isced.

Apresentei, então, os dois paragrafozinhos da minha existência e a intenção de lançar o livro no Lubango. Confesso que não levou muito tempo para que me sentisse familiar ao ambiente do seu apertado gabinete, nem para captar o seu bom senso e espírito de ajuda.

Falou-me do programa que decorria naquela semana, uma iniciativa para saudar o aniversário do continente Africano. Saiu por alguns instantes e de volta trouxe a agradável notícia de ter conseguido anuência para o lançamento do livro durante a palestra que aconteceria no anfiteatro da Universidade dentro de dois dias. Mais do que isso, cuidou dos corredores para divulgação junto da Rádio Estatal Local. E, no final do primeiro dia, num instinto de pai, accionado talvez pelo aspecto dos meus lábios despidos e secos, quis saber se eu tinha comido alguma coisa…!

Carlos Cardoso “Dr. Xia KMK”, a quem reitero a minha profunda gratidão, é docente e amigo das letras, que nas "Terras Altas da Chela" teima em consolidar a brigada Jovem de Literatura. Durante as conversas, não escondeu a vontade de ver a província da Huíla editar também autores locais, à semelhança do que faz Benguela através da editora KAT.
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Gociante Patissa
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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Hospital Central de Benguela volta a extraviar recém-nascidos

Pela terceira vez nos últimos dois anos, o Hospital Central de Benguela, que funciona em instalações provisórias, está no centro da polémica pela misteriosa troca de bebés, desta vez envolvendo a pediatria.

Ontem, por volta as 10h da manhã, o casal Wilson Menezes e Cristina Filipe foi informado pelos enfermeiros que acabava de falecer o seu bebé, do sexo masculino, que dera entrada na sala de reanimação da pediatria três dias após o nascimento ocorrido em casa.

O casal recolheu o corpo, enquanto se accionava a máquina para a realização do óbito. Mas a meio da tarde, já no ritual de preparar o corpo, dão conta que o cadáver era do sexo feminino. Logo, algo estava errado.

Enquanto isso, e muito alheia ao pesadelo da família Wilson e Cristina, estava a esposa do cidadão José Marcolino “Cabidela”, aguardando, esperançosa, pela melhoria da sua menina de uma semana de vida, também na inacessível sala de reanimação. Mas ao ouvir que uma família acabava de regressar ao hospital com um cadáver levado erradamente, a esposa de Marcolino vai espreitar e vê o insólito: o corpo era da sua recém-nascida que era suposto estar a receber tratamentos, segundo garantia dos enfermeiros em serviço. No entanto, a cidadã Cristina não tem dúvidas do quanto é mãe do bebé em vida, não obstante o nome na pulseira de parturiente coincidir com o do cadáver em causa. Só para lá das 17h se desfez a trapalhada.

Cresce a indignação da sociedade benguelense, que aguarda com impaciência e cepticismo que as autoridades esclareçam mais este caso, quando ainda sangram as feridas de outra família que há dois meses viu desaparecer na Maternidade do Hospital Central o seu recém-nascido. Curiosamente, as famílias visadas têm algo em comum. São de baixa renda, incapazes de custear um advogado, isto, numa realidade em que é quase nula a prática do patrocínio judiciário.

O recém-empossado Director Provincial da Saúde, Valentino Caliengue, garantiu a instauração para breve de um inquérito a fim de se apurar as irregularidades.

Por seu turno, o Representante do Sindicato dos Enfermeiros, Miguel Mbolela, atribui à fadiga a causa da negligência, já que, segundo disse, apenas três enfermeiros se encontravam de piquete para mais de 52 pacientes. Diz ser um caso do Governo, e não mais dos enfermeiros, uma vez que nestas instalações provisórias não há condições de trabalho ideais nem espaço.

Tudo indica ter caído no esquecimento o primeiro caso de troca de bebés, ocorrido em 2007, em que uma família chegou erradamente a realizar o funeral de bebé alheio. Não se tem conhecimento de alguma conclusão do assunto, provavelmente ninguém foi responsabilizado.

Quantas mulheres mais continuarão a chorar pelo extravio de crianças, como se já fossem poucas as dores de parto?

Gociante Patissa, cidade de Benguela
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segunda-feira, 6 de julho de 2009

Crónica: "Tabus? Então, mas isso é como?!"

Ó primo, mas então já não te falei do quanto gostava de te escrever umas mukandas?! Sei que não és doente profissional, como muita gente que anda a abandalhar mortalmente os doentes nos bancos de urgência, por isso acho que te lembras daquilo que te confessei: eu preferia mesmo era o tempo do correio postal, de envelopes e lamber selos… aquilo é que era correspondência!!! Cá por mim dispensava essas cartas inertes, sem assinatura nem suor, que voces chamam de e-mails ou o raio que o parta. Ja sei o que te passa essa hora pela cabeça, deves estar a dizer o primo é um gajo de tabus, não é isso?!

Aliás, já é sintomático. Tudo que é debate, análise ou reflexão sobre os problemas cá da nossa África tem sempre um repetitivo paradigma. Causa dos problemas: tabu. Consequência: perpetuação dos tabus. Dessa forma, pensar e falar África gravita em torno de tabús, o que volta e meia derrama conotação negativa, através da generalização, sobre alguns dos aspectos mais sagrados da nossa cultura. Se às nossas raparigas era ensinado que mostrar o umbigo era feio, o rótulo é imediato: é tabu; mas ninguém realça que a moral da coisa era evitar que se andasse por aí a mostrar pêlos púbicos, de si um disparate explícito.

Ora, primo, não vais gostar desse meu teorematizar, você até dirá que há um certo excesso de exagero. Mas as nossas mukandas sempre foram assim – tanto que te chamo tu ou você sem makas – e hoje não me escapas nessa de tabu. Ora vejamos o que nos diz o dicionário sobre essa palavra: «Restrição ou proibição imposta por tradição, costume ou religião».

Não seria também necessário trazermos à reflexão a lógica da dialéctica? Ou seja, tanto podem existir tabus bons ou maus tabus.

Por outro lado, primo, nessa coisa de glob(e)lização, agora temos que falar só o que anda na moda? Assim também, não! Então nada mais nosso existe? Agora temos que sair por aí a apoiar iniciativas, como “bumbum dourado” (entenda-se o cú mais ousado quando abanado), uma importação enlatada do Brasil? Que o dinheiro do prémio (USD 10 mil) não é nosso, isso já sabemos, agora, temos que olhar para o outro lado com medo do rótulo tabu?

É verdade que em certas circunstâncias a ignorância se confunde com tabú. E como numa situação de ignorância tudo se pode esperar, são usuais relatos de violência de toda ordem. Mas, desculpa lá, primo, como é que a violência é para cá chamada? Claro, já me lembro:

Já esqueceste o responsável da única loja do povo, que deu sova até partir a bacia pélvica a uma senhora só porque esta lhe pediu namoro? Finais da cada de 80, na comuna da Equimina, município da Baia Farta. Aposto que hoje a reacção do homem seria diferente, afinal todos sentem, todos desejam a partir de certa idade. E é isso que os pais não têm conseguido transmitir no seio familiar, falar da sexualidade. E não sou o único que pensa assim, primo, juro mesmo!

Mas e os filhos?

Estávamos na clínica (minha mãe, eu, mais uma senhora e sua criancinha). Aproveito a distracção da minha mãe para sacar umas camisinhas expostas sobre a mesinha, de mansinho para não me ver porque, eu que até sou activista pela mudança social, afinal não saberia explicar à própria mãe o que é “condom” e para que serve. Bastante desinibida, a senhora, que nunca vi mais gorda, diz: “é melhor escolher esse tipo, há outros que dão alergia”. Admirei! Mas, vendo bem, eu tenho “azar”: já no outro dia, no supermercado, certa jovem me sugeriu para escolher um tipo de cuecas, assim mesmo: “o meu marido, que é maior que você, usa número tal”.

O mundo mudou, primo, neste caso para melhor sempre que se abordem questões “sensiveis” com a devida sobriedade verbal (ou saíamos a chamar “sovaco” às axilas). Assim falei tabú?

Gociante Patissa, Benguela 6 Julho 2009
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sábado, 4 de julho de 2009

Tradução: Porque o polígamo é... corno

São cada vez várias as evidências do quanto um polígamo é potencial chifrudo. É tudo da nossa parte, obrigado!
(Fotografada por GP no interior de um restaurante no Chongoroi)
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Pedagoga Deolinda Valiangula é nova administradora do Município do Bocoio

Um despacho do Ministro da Administração do Território, Virgílio de Fontes Pereira, divulgado esta semana, dava conta da exoneração de António Saraiva do cargo de administrador municpal do Bocoio, que dista 70 km da cidade do Lobito.
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A substituta é no entanto um rosto conhecido, ou não fosse uma destacada figura da pedagogia na província de Benguela, por sinal Directora do Instituto Médio Normal de Educação (IMNE.
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Valiangula, com trajectória política de relevo na Organização da Mulher Angola (OMA), organização feminina do partido no poder, é ainda Mestre em Didáctica do Ensino (Instituto Superior de Ciências da Educação -
Universidade Agostinho Neto). Outra mulher à frente de uma administração municipal na província de Benguela é Maria João, que agora deixa de ser "em exercício" e passa a titular na Baía Farta.
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António Saraiva, que tem passagem pela Jmpla (organização juvenil do partido no poder) e pela banca, vai agora dirigir os destinos do município do Balombo, ou seja, mantém o cargo só que um pouquinho mais distante.
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Entre as suspresas, ressaltam-se as ascenções a vice-administradores de Basílio Sassendo Jessé, ex-Chefe da Secção Municipal da Educação no município da Baía Farta, bem como do Jornalista (TPA) Leopoldo Muhongo, que se ocupava da comunicação e imagem na Administração Municipal de Benguela.
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(Na foto: Deolinda Valiangula quando participava de uma das sessões radiofónicas de mesa redonda do programa "Viver para Vencer", uma gentileza do arquivo da ONG AJS-Associação Juvenil para a Solidariedade).
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quinta-feira, 2 de julho de 2009

Isso eu já sei

Quando partirem
não os censurarei

Se me abandonassem
não os condenaria
nem que me viesse alguém atiçar o faria

Que não fui para os que me conheceram
exemplo consistente de companhia
ora isso eu já sei


Gociante Patissa
In «Consulado do Vazio» (KAT-Consultoria e empreendimentos, LDA, Benguela, Maio 2008)
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A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

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