sexta-feira, 6 de junho de 2008

Transferir a capital de Angola para a província do Huambo. O que pensas? (*)

A capital de Angola devia ser transferida para outra província, por exemplo o Huambo ou o Bié, defendeu hoje em declarações à Lusa a escritora angolana Maria Alexandra Dáskalos."Sou defensora disso. O que aconteceu nestes mais de 30 anos foi que realmente houve uma altura muito megalómana, muito macrocéfala de Luanda em relação ao resto do país. E seria altamente positivo deslocar a capital, porque Luanda se tornou numa cidade de rotina insuportável. É um desastre urbanístico", disse.
Nascida no Huambo, Maria Alexandra é sobrinha do nacionalista angolano Sócrates Dáskalos, fundador em 1961 da Frente de Unidade Angolana (FUA), e lançou quinta-feira em Lisboa um livro em que publica a tese de mestrado em História Contemporânea, com o título "A Política de Norton de Matos para Angola - 1912/1915", da responsabilidade das Edições Minerva Coimbra.
Maria Alexandra Dáskalos justificou a escolha do tema pelo que considera ter sido o "papel fundamental de Norton de Matos no lançar das bases da Angola moderna" durante o primeiro período de governação, entre 1912 e 1915. "A reforma administrativa e o redesenhar do mapa de Angola, com as 'campanhas de pacificação', a rede de estradas e a penetração das três linhas férreas, a fundação da cidade do Huambo no planalto central e o objectivo de fazer desta área uma região estratégica no projecto da revolução agrícola, são factores que alteram e definem a Angola moderna", defendeu.
A mudança da capital de Angola permitiria ainda "rentabilizar uma zona como o planalto central e também dar ao povo Umbundu - e isto não é defender etnias -, uma dignidade que merecem", destacou. "O povo Umbundu está em todo o lado, mas aquela zona merecia a importância que perdeu, porque o Huambo foi das cidades mais modernas em termos de investigação e economia no tempo colonial. Tínhamos ali a fina-flor dos agrónomos e dos veterinários de toda a África", acrescentou. "Acho que se devia retomar a ideia do Huambo, como Norton de Matos a concebeu e está aqui neste livro como ele a concebeu, e dar importância não só à região, mas também ao povo do planalto central", frisou. "Um vulto da grandeza de Norton de Matos na I República foi esquecido pelo Estado Novo, por razões que nos parecem óbvias.
Porém, o facto de ele ter sido um colonialista provido de uma visão imperial correspondente à sua época levou também a que a revolução marcada pelo pós-25 de Abril e pela independência das colónias de África tenha relegado para um longo silêncio a sua obra em Angola", lê-se no livro de Maria Alexandra Dáskalos. A investigadora pretende demonstrar com este livro que "a Angola da modernidade nasceu com o projecto imperial de Norton de Matos neste primeiro período de governação e que muitas das suas ideias inovadoras apenas forma concretizadas mais tarde, quando o Estado Novo, isolado internacionalmente, as recupera".
José Maria Mendes Ribeiro Norton de Matos, nascido em Ponte de Lima, em 23 de Março de 1867, iniciou na Índia a carreira na administração colonial, tendo depois viajado por Macau e pela China em missão diplomática. O regresso a Portugal coincidiu com a proclamação da República e em 1912 assumiu o Governo-geral de Angola, cargo que exerceu até 1915, quando foi demitido em consequência da nova situação política que se vivia em Portugal durante a Primeira Guerra Mundial. Entre 1921 e 1924 voltou a exercer o cargo de Governador-geral de Angola, tendo posteriormente sido nomeado embaixador de Portugal em Londres, de que foi afastado aquando da instauração da Ditadura Militar, que antecedeu o Estado Novo.
Eleito em 1929 grão-mestre da maçonaria portuguesa, participou nas eleições presidenciais de 1949, desafiando o regime de António Salazar, mas devido à falta de liberdade no acto eleitoral, e prevendo fraudes eleitorais, acabou por desistir depois de participar em comícios e outras manifestações de massas.NL
(*) Roubada ao Blog Uige Centrico
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10 Deixe o seu comentário:

Soberano Kanyanga disse...

Tenho lido, visto e ouvido na rádio a jornalista em causa. É uma conhecedora da província e do país em que nasceu, mas fico com a impressão de que as suas formações quanto à transferência da capital angolana para a antiga Nova Lisboa de Norton de matos não passa de apenas uma ideia. Ter ideia é muito bom. Fazer das ideias factos é outro conversa. Com certeza que Luanda está insuportável, mas Huambo estaria bem pior. Note que a cidade do Huambo sem ser capital do país, e sem os acessos todos abertos (refiro-me às estradas inter-provinciais e inter-municipais) já regista engarrafamentos em horas de ponta.
Outra ideia e que tb. é apenas ideia seria dividir os poderes do Estado em capitais distintas. Luanda a capital Política, Huambo a capital económica e uma outra cidade que podia estar no Norte ou Nordeste a capital jurídica. Assim estaríamos a disseminar o desenvolvimento, repartir as vantagens e os "males".
Transportar todos os males de Luanda para o Huambo não seria boa ideia, embora isso permitisse Luanda entrar em obras profundas.

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

Valeu esta Canhanga. Na verdad é cada vez mais "obrigatório" do ponto de vista cidadão de repensar o caos de Luanda e o seu contributo na venda da imagem do país e (o mal da coisa) no fomento do stress aos seus habitantes. Mas tb concordo consigo q "exportar" o nome, por si só, não resolve, ou não tivesse Huambo as limitações próprias da história. Vamos a seguir debatendo!

jotaeme disse...

Ora bem: Aqui está uma qustão interessante para debater!Luanda com os seus 5 milhões de habitantes está sobrelotada!A sua vivência diária reporta grandes problemas logísticos!Numa perspectiva de descentralizar, acho que seria possível, mas não muito prática! Em especial em termos de soberania, como símbolo nacional e mesmo em termos de localização estratégica! Luanda tem fortes sentimentos de elevação do nacionalismo e seria difícil deslocalizar tudo o que é governação e seus minoistérios...
Uma ideia que me parece urgente debater em Angola é sim o regresso acompanhado das pessoas deslocadas pela guerra de consolidação após a independência! Devagar para cativar e apoiar aqueles que o desejem e assim aliviar a pressão demográfica sobre Luanda!Todos teriam a ganhar!
Conheci a cidade deo Huambo em 1973 e na altura fiquei deslumbrado com a sua posição e desenvolvimento! Mas Luanda tem outro simbolismo!
Abraço!
Jorge madureira

F. Cangüe disse...

Construção de nova capital. Aproveitar construí-la em local neutro e pronto.

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

Valeu, amigo Cangue, na verdade seria também uma saída, contudo não deixaria de levantar protestos de muita gente q viria defender q a capital de um país fosse (oferecida a) um local com referências colectivas do ponto de vista histórico, antropológico, geo-estratégico e muitos outros "icos".

Anónimo disse...

debate sobre o espaco geografico da capital de angola ou aonde vai ficar a nova ou futura capital de angola so tem mesmo sentido para nos que sofremos da febre da centralisacao de outra forma ate nao seria motivo para debate. os british nao debate se londres deve continuar a ser a capital do pais os americanos nao sabem que a sua capital e washigton os sul africanos nao se preocupacao com jo'burg pro la o debate e os estrangeiros e quem tem melhor qualidade de vida.

como para nos tudo e capital entao quem tem a capital tem tudo ate para encontar um emprego em benguela melhor e estar na capital entao fica complicado.

Aonde devia ficar?
enquanto nao chegar a republica federal de angola vai ficar aonde esta com todos seus males.

Kashuna Andre "Gifted"
lundanorte.blogspot.com

Anónimo disse...

Caro Gociante:

Quero felicitá-lo pelo excelente espaço de discussão que nos proporciona. Urge pensar Angola como o grande pais que pode ser, dentro e fora do contexto da África austral.
Por outro lado, não pude deixar de apreciar que escreve muitíssimo bem e gostaria, sem paternalismos, de congratulá-lo por isso. Sou português, sou docente universitário em Angola, e é para mim uma satisfação ver Angola levantar-se pelos seus próprios meios. Vejo em si um exemplo disso mesmo.

Parabéns

H

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

Sinto-me agradecido pelo elogio, consciente de q o caro amigo de Angola fez uma apreciação geral, uma vez não ser do meu punho este texto. Sou também daqueles q pensam que fazemos parte de uma geração condenada a não repetir os erros das anteriores, que não poderam contar nem com o boom da tecnologia, nem com a expansão da cultura democrática. Sem falsa modéstia, tenho um inclinação por línguas e um berço bilingue. Excepto o umbundu, q aprendi da forma mais "sagrada", o português e o inglês vou aperfeiçoando com o autodidatismo, o que se soma os 9 anos de trabalho com ONG. Tive tb bons professores de português, sendo o Sabino Kapuca no ensino de base, e a portuguesa Maria Aida Baptista (então Representante do Instituto Camões) no curso intensivo de jornalismo e técnicas de comunicação/redação promovido por uma ONG angolana em Benguela, que foi até cair na letargia em 2006 a mais sonante escola de capacitação de profissionais de Rádio, TV e Imprensa em cada ciclo de 3 meses. Escrevo há 12 anos, sendo q só este ano (dentro de 20 dias o lançamento de estreia com poesia) e encontro-me a escrever contos. Por favor, este Blog precisa da vossa audiÊncia.

Anónimo disse...

Claro, os nossos irmãos k morreram no dia 17-06-95 ao serviço da maboque sport club, jamais serão esqucidos.Apesar do silêncio imposto pela direção da impresa em não reconhecer os factos e tratar o assunto com menos transparência, nós os sobreviventes sabemos a verdade e um dia na companhia de todos aqueles k se vão juntar a nós nesta nobre mais dificil causa mostrare-mos ao mundo k a justiça tarda mais acaba chegando.

Unknown disse...

1acho que a transferencia descentralizaria o poder concentrado em LUanda e levaria investimentos para o centro do país, assim como outras nações outrora o fizeram tal como a criação da capital Madrid, Brasilia, dentre outros. Também há de se considerar o clima ameno de montanha de Huambo, muito mais agradável do que a sufocante Luanda.

A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

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