segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Nota solta | Dever de casa mal feito ou excesso de maquilhagem ao microfone?

Gongo ou Ngongo? Alguém consegue explicar por que razão o locutor do espaço da própria Administração Municipal do Lobito, emitido na manhã de hoje pela Rádio Mais, dizia "Gongo" /gon-gu/? Seria uma espécie de maquilhagem para poupar a entidade da classe dos "nomes feios"?

Parece que o trabalho de arrumar a casa no mandato de Alberto Ngongo Beto deverá incluir a área de comunicação e imagem. De contrário, seria pois complicado partir dali a própria confusão na cabeça do cidadão comum, que até sabe que Ngongo (com as vogais todas abertas), na língua Umbundu, significa sofrimento e também terra. Uma barreira escusada.

Que os nossos locutores padecem algumas vezes de um certo complexo de "cultura superior" quando se trata de pronunciar nomes tradicionais africanos, isso é já um facto inquestionável. No outro dia, uma competente apresentadora da TPA teve a "pertinência" de impôr ao interlocutor que encurtasse o nome, pois era (se não estranho) muito comprido. E fê-lo com aberta risada de sarcasmo, ainda que breve. Mas desconfio que a profissional tenha levado um puxão de orelhas pelo intercomunicador, pois a seguir ao intervalo já passou a empreender algum esforço em "tolerar" o nome do outro.

40 anos depois da independência e com tantos progressos registados enquanto país soberano, ainda continua uma boa parte da elite intelectual da comunicação com o preconceito, a tal ponto que se pronunciam com perfeição nomes como /drrogbá/ ou /maiquel jaecson. Entretanto não se padroniza o nome do ministro das relações exteriores, que quando não é chicote, é chicot ou então tchikoti.

É estranho que cadeias de informação como a BBC (inglesa) tenham uma espécie de caderno de estilo, precisamente para padronizar palavras e expressões que não sejam do domínio da maioria.

O nosso problema é dever de casa mal feito, ou questão de excesso de maquilhagem ao microfone só mesmo?
 Gociante Patissa, Lobito, 22.02.2016
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