quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Turismo interno – LIGAR AS PROVÍNCIAS DE BENGUELA E NAMIBE PELA VIA DOMBE-LUCIRA

A informação segundo a qual a estrada nacional 280, que liga Benguela ao Namibe pela via do Dombe-Grande-Lucira, teria já bom asfalto despertou a missão. A cidade do Namibe, como tal, pouco tem para oferecer, já que esta é a quarta presença, tendo sido a primeira em 2003, também numa aventura (com a diferença de ter tido companhia).

A verdade porém é que o asfalto termina uns 5 km depois do desvio da comuna da Equimina, conforme a placa ilustra. Daí em diante, é terra batida e serras íngremes, pelo menos para quem faça a aventura sem um jeep. No meu caso, a adrenalina e uma certa sensação de vulnerabilidade foram constantes, porquanto se há pelo menos mais de 100 km sem cobertura telefónica nem água à vista (quer dizer, em caso de avaria, as alternativas são bastante diminutas). O risco de perder o rumo quase não existe, em função do louvável trabalho de sinalização. Tendo partido do Dombe-Grande por volta das 9h40, só às 13h15 consegui chegar ao desvio da comuna da Lucira, já no território do Namibe, onde começa o asfalto, se bem que com frequentes desvios por picadas, dado muito ainda que há a fazer para a conclusão das novas pontes.

Pelo péssimo sentido de orientação mais o meu atraso em matérias de exploração de gadgets (dispositivos e funções digitais), pouca informação tinha dos lugares por onde passaria, a própria estrada bastou-me como guia. E foi com grande emoção que um dos atalhos devidos a obras na estrada me levou à porta do Centro Prisional do Bentiaba, antigo São Nicolau, que está ligado directamente à história da minha família.


Abro parêntesis para partilhar que em 1961, Manuel Patissa, meu avô paterno e xará, aos 45 anos de idade e poucos dias passados sobre a morte da mulher, foi preso pelo regime colonial português na região do Bocoio, Benguela, e mandado para a cadeia de São Nicolau. Seu único crime era ser líder da sua sinagoga (Igreja Evangélica do Sudoeste – agora Sinodal – de Angola), só libertado em 1966.

O fascista e racista regime andava tresloucado pelo efeito contrário da sua arma opressora, a fé cristã (usada para amaciar e patrocinar a escravatura), que se revestiu do caráter libertário. De cristãos e bons indígenas, já se encaixavam no estatuto de “turras” (terroristas), associados ao início da luta armada de libertação nacional. Juntamente com meu avô teriam cumprido cadeia o “Liambandino” (corruptela de Diamantino) que cheguei a conhecer enquanto motorista de Chevrolet cinzenta, e também o pai de Eugénio Manuvakola (reverendo Malaquias, se não me engano). Enfim, e ainda temos fazedores de opinião em Benguela que defendem que era suposto Angola manter os monumentos a Salazar e outros, por conta de uma pretensa preservação da história…
 Depois do Bentiaba, tem-se uma rica paisagem, quer pela configuração do relevo, quer pela extensão do deserto de Kalahari. Vale mesmo a pena! Bom, voltando à nossa aventura, já na hora do regresso a Benguela, há que aceitar a frustração: o plano era não passar pela Serra da Leba, mas não há como regressar pela via da Lucira, submetendo o carrito a tanto solavanco. Seria um adeus aos desafios. Um abraço do vosso Gociante Patissa
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