quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Crónica: Leite gelado?

Rex (Nigéria) e Patissa (Angola) à mesa do
matabicho no Washington Marriot

Entre Luanda e Newark residem umas 14 horas úteis de voo, acabando metade deste tempo gasto ainda na rota de escala, via Lisboa. Somam-se a isso duas horas de ligação, as quais no meu caso foram agradáveis com cicerone de luxo, de quem ainda ganhei um par luvas pretas.

O entusiasmo de conhecer América, ainda por cima com todas as despesas patrocinadas pelo Departamento de Estado e o Programa de Líderes Internacionais Visitantes, não suplantava o desgaste a todos os níveis, desde as nádegas anestesiadas de tanto sentar, o choque térmico entre o calor da banda e o inverno pelo caminho, as bruscas mudanças de paisagem, a língua, os fusos horários que alargavam cada vez mais o comprimento das horas do dia, a preocupação em achar o lugar marcado no bilhete para sentar, a comida, enfim. Tinha pela frente ainda mais três horas de voo para aterrar em Dulles, Washington-DC, isso há três anos.

Já pouco, ou quase nada mesmo, me apetecia, quando a hospedeira passava com aquele carrinho de víveres e me consultou sobre o que queria beber. Farto da típica variedade de refrigerantes, respondi-lhe, lacónico: cold milk, please!

Conhecendo a tendência americana da preocupação com a reputação, diria que a hospedeira não foi a tempo de esboçar aquele discurso floreado em jeito de negação. Era escusado pronunciar a palavra NÃO, de tão evidente na expressão facial. Trabalho também em aviação, e sei que em certas circunstâncias, o humano escapa na reacção do profissional. Sorri e lhe disse que estava tudo bem.

Recuperado o controlo da situação, assegurou que havia leite apenas para misturar com chá e café, não serviam um copo inteiro. No problem, tranquilizei. Uma vez servidos os passageiros sem que um deles se lembrasse de pedir leite, ela veio ter comigo. Desculpa, o senhor ainda quer leite? Sorri outra vez. Sim. E lá trouxe um pacote que dava para um copo e meio, para meu agrado. I am truly sorry about that, desculpou-se ela, acrescentando que era a primeira vez que lhe pediam leite gelado. Thanks.

A Cristina bem dizia, num desses bate-papos cibernéticos, que o ser humano é dos mamíferos o único que continua com leite depois do desmame (ao que acrescento, com pequenas doses de café para fingir que não, como no galão).

Gociante Patissa, 30 Janeiro 2013
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1 Deixe o seu comentário:

Anónimo disse...

A história estä engraçada!

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