terça-feira, 26 de junho de 2012

Crónica: Missang mais de quiêêê?


Os políticos e os experts em relações internacionais, que têm o defeito das estratégias e das ciências, andam agora a discutir o regresso, ou não, da Missang à Guiné-Bissau. Eu gosto mais de missanga, que as mulheres usam ao pescoço para, de quando em vez, servirem de brinquedo do bebé ao colo. Missang sempre me pareceu incompleto, e sempre rezei para não entrar nunca no dicionário de língua portuguesa (sim, porque a língua portuguesa cresce mais em África do que em qualquer parte, de tanto que abocanha de expressões e mambos daqui). Bem, também nunca já gostei mesmo de saber com que peças se forma essa missang(a) insidiosa. Então, se o pescoço turbulento chamado Guiné-Bissau, que gosta mais de solavancos do que do suave dom de respirar, entendeu que os angolanos "tunda!", já não voltamos? Agora vem mais é porque "enju!"? E, é verdade, ainda vêm esses sabichões dizer que o melhor seria voltar para lavar nossa cara diplomática? E nós precisamos de cara diplomática? Diplomática não é aquela pasta que rima com gravatas, cheia das vaidades e cujo conteúdo geralmente não sabemos, de vez em quando escuso mesmo? Falo como homem do kimbo, não dado às mundivicências modernistas, mas tenho palavra. Não vá nenhum soldado mais à Guiné-Bissau. Exijo. Mas de onde vem a legitimidade? Indagarão uns. Ora, do facto de a minha mãe ter levado um tiro de raspão na bocheca, quando me trazia às costas, nos anos em que essa Angola andou em guerra. Não fosse a péssima pontaria do outro, era na minha cabeça a bala e pronto!, seria um anónimo, uma quase existência. E ainda me vão dizer que o soldado vai lá para garantir a paz, logo na Guiné-Bissau, onde esquartejar inimigos é coisa banal?! Os soldados angolanos por acaso não nasceram de mães, quantas delas camponesas e lutadoras pela vida (enquanto os maridos serviam a pátria, vivos ou mortos ou quase isso, algures), na esperança de ver o filho com um pouco de escola e ofício?! Eu até não gosto de polítiquices, mas chega!!!
Gociante Patissa
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2 Deixe o seu comentário:

Fernando Ribeiro disse...

Caro Gociante, desculpe-me a intervenção, mas sinto que tenho que discordar da sua opinião.

Não quero dizer que apoio a Missang. Não apoio. Mas não é isso que me traz aqui. A minha discordância refere-se às considerações que tece sobre a Guiné-Bissau e o seu povo, que é pacífico. Sim, o povo da Guiné-Bissau é pacífico.

Durante muitos anos Angola esteve em guerra, como muito bem refere. O que o Gociante pensaria de alguém que nesse tempo escrevesse, por exemplo, «...o pescoço turbulento chamado Angola, que gosta mais de solavancos do que do suave dom de respirar...», ou então «...em Angola, onde esquartejar inimigos é coisa banal...»? A verdade é que o que tem vindo a acontecer na Guiné-Bissau (infelizmente) é apenas uma sombra do que se passou em Angola durante anos e anos. O Gociante conta mesmo que a sua própria mãe foi alvejada a tiro. O que se poderá dizer de alguém que é capaz de disparar contra uma senhora que traz o filho às costas?

Por favor, não ofendamos os nossos irmãos guineenses, que não têm culpa dos militares que têm. Os guineenses também «...nasceram de mães, quantas delas camponesas e lutadoras pela vida (enquanto os maridos serviam a pátria, vivos ou mortos ou quase isso, algures), na esperança de ver o filho com um pouco de escola e ofício».

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

Caro Fernando, apoio por completo o direito que tem em discordar. E muito prezo as suas visitas aqui no Blogue precisamente por essa forma sincera de interagir.

Agora, não estou a ver os políticos e militares angolanos firmarem acordos com o povo, mas sim com os seus similares. Em nenhum momento das linhas me refiro ao povo, com que aliás mais me pareço, meu caro, nenhum!

Uma coisa é certa: os angolanos já viveram guerra que sobre para agora andarem a se envolver em guerras relativamente alheias. O que digo agora não será surpresa alguma, mas uma constatação óbvia da história do exército angolano: nesses batalhões de soldados "talhados" para beijos a canhões, rara é a vez que se incluem filhos de ricos e poderosos, que aliás andam pelo estrangeiro nas melhores escolas para, à sua chegada, serem chefes da grande maioria, o que em sociologia se chama reprodução social (de classes).

Como diria uma amiga americana quando visitamos um navio de guerra de marines americanos no porto do Lobito, "Sempre os miúdos a fazerem a guerra para os adultos".

Aquele abraço
Patissa

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