sábado, 16 de abril de 2011

Crónica: “Um abraço aos profissionais da voz”

Encontro-me em Luanda, pela segunda vez em uma semana, para a mesma coisa: reciclagem sobre cargas perigosas, que iniciaria na sexta-feira… se o instrutor estivesse disponível. Evito então efectuar telefonemas, para não sair distribuindo desabafos. Enquanto penso num jeito de salvar o dia, toca o telemóvel. Atendo com a mesma indiferença de quem trabalha no aeroporto: podia ser só mais um pedido de passageiro sem a reserva feita. E é com prazer que recebo do amigo Machado de Macedo (na foto) o desafio de traçar umas linhas em torno do Dia Internacional dos Profissionais da Voz.

E porque é sábado, deixemos as sebentas, dicionários e enciclopédias de lado. Melhor mesmo é abordar o assunto, vestindo de calções, “parto-os-cornos” e chinelos a linguagem.

No princípio deste ano, correu o mundo a história de Ted Williams. Era um mendigo vivendo na rua, entre muitos nos Estados Unidos da América. A reportagem televisiva encontrou-o exibindo um cartaz, onde se lia o seguinte: «tenho uma voz de ouro para rádio, pague um Dólar e oiça». A voz é aveludada, cheia e ligeiramente metálica, para além do dinamismo em anúncios e publicidade. No dia seguinte, várias rádios disputavam para dar emprego a Ted, que ganhava reinserção social.

Ted descobriu a vocação na adolescência. E conta: «Fui movido pela curiosidade. Visitei uma rádio da minha zona para conhecer um locutor, uma verdadeira estrela. Mas ele estava longe de se parecer com a imagem da voz. Quando manifestei tal surpresa, ele me disse: meu jovem, a rádio é o teatro da mente. Aqui, com o uso da voz, o profissional pode ser o que quiser». Após algum tempo como principiante, Ted veio a entrar no mundo das drogas, arruinando a juventude e a saúde.

Profissionais da voz estão nos mais diversos sectores da vida. Estamos a falar de juízes, cantores, actores, radialistas, professores, pastores e padres, advogados, jornalistas, políticos, enfim, todos os que vivem da voz para trabalhar. E não será nada demais incluir as zungueiras nesta lista. Bom, mas será que elas, as zungueiras, têm noção dos cuidados a ter com a voz?

A lista é longa. Luis Kifas, o actor Sidónio do Conversas no Quintal, disse em entrevista à TPA que evitava o máximo consumir água gelada. Tal “sacrifício”, entretanto, é difícil para o músico Hélvio, que viveu um tempo na Europa. O benguelense disse, também à TPA, que tinha dificuldades em suportar o calor, apesar de saber que o choque térmico dá cabo das cordas vocais.

Durante muito tempo imperou o mito de que aguardentes fortes temperam a voz. Não é bem assim. Por falar em vícios, um conhecido actor e quadro do cinema angolano atribui culpas ao tabaco pelas vezes que se viu atacado pela rouquidão… só que não tem conseguido parar de fumar.

Também já alguém recomendou algum cuidado com o ar condicionado, pois este resseca a mucosa, alterando a vibração das pregas vocais. Mas como, com esse calor tropical?! A alternativa é beber bastante água, enquanto se trabalha exposto ao AC.

Para terminar, fica um forte kandandu a todos os profissionais da voz, aqueles que gostam do seu trabalho e nos fazem chegar a música ou a palavra com alma! Se os olhos são o espelho da alma, a voz é das mais profundas marcas de identidade do ser humano. Aiué, Sábado!!!

Gociante Patissa, Luanda, 15 de Abril de 2011
PS: elaborado para o programa “Aiué, Sábado!” da Rádio Morena Comercial, Benguela. 
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2 Deixe o seu comentário:

BIA disse...

OBRIGADA PELA VISITA.

ABRAÇOS.

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

nada a agradecer. Um abraço

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