terça-feira, 8 de abril de 2008

(Opinião): Declaro aberta a campanha eleitoral

Quando o Tribunal Supremo – ou quem quer que seja a instituição competente – der por aberta a campanha eleitoral, até o mais distraído dos cidadãos saberá que “antes de estar, já estava”.

98 partidos políticos em situação regular e 29 outros ilegalizados pelo Tribunal Supremo, é o quadro um tanto preocupante com o qual Angola caminha para as segundas eleições, a decorrerem no principio de Setembro deste ano (não avançaremos datas, até serem de facto convocadas). Supondo que se ponha a disposição de cada partido político qualquer coisa como USD 75 mil, teremos um orçamento do erário público de 7 milhões 350 mil Dólares norte americanos.

Pelo país, a corrida a anunciar as eleições sente-se no pulsar do sangue, na “intoxicação” discursiva, no arco-íris ciumento das bandeiras partidárias, enfim, num generalizado semáforo já em cor de laranja, sugerindo prudência. De facto, prudência acaba por ser a lamparina obrigatória enquanto durar a “treva” chamada contexto pré-eleitoralista.

Na verdade, sabe-se sempre a data da realização do pleito eleitoral, mas muito difícil – para não dizer impossível – é determinar a data exacta do início da campanha eleitoral; tal é a complexidade do exercício da política, tal é a matreirice do ser político e o jogo de cintura para vencer o adversário (onde o segredo está no bem esquivar os impedimentos da lei, no saber jogar com os segredos e com os erros do adversário). E o público é que “paga”.

No livro biográfico de Nelson Mandela, “Long way to freedom”, confessa o narrador a dada altura que a campanha para as primeiras eleições na África do Sul libertada do Apartheid havia começado muito antes da autorização formal, ou seja, o seu maior relevo deu-se com a mediatização preparada e bem executada do momento da saída da prisão do líder, no caso, Nelson Mandela.

Pronto! Declaro aberta a campanha eleitoral, e deixamos de fingir que as incursões pelo país são apenas devidas à sensibilidade dos nossos irmãos pendurados nos altares da política. Declaro aberta a campanha pela convicção de que é também meu dever de cidadão contribuir para que, no final, a vida do meu povo (se tiver que mudar) mude numa perspectiva de melhoria.

Para ser sincero, assim como não acredito na fé cristã de muitos que me querem convencer, também não me inspira confiança político algum. Propositadamente decidi que só me registaria quando faltassem dois dias para o fim do registo eleitoral. E assim foi. Com todo o respeito que tenho por eles, enquanto adultos com responsabilidade e idade superiores, nenhum político é mais importante do que povo (o conceito de povo inclui o mais esquecido dos cidadãos!).

Por isso, a minha mensagem é dirigida ao povo que é, convenhamos, aquele que mais esperança oferece em termos de integridade e carácter. Embora não tenha votado nas eleições de 1992, participei com toda a ingenuidade de adolescente com convicções, pintei calças e camisolas, enrouqueci a voz em comícios e passeatas, distribui propaganda. E uma lição aprendi: o político que incita violência confia no helicóptero e na guarda-pessoal; o simpatizante que se entrega à intolerância política, quebra a cara e as relações com os demais.

Mesmo que o nosso candidato venha ganhar, não será tão cedo que este, o candidato (não importa sem homem, se mulher), virá tão perto das massas. É pura ilusão! “Luanda fica sempre longe!!!” Vamos, por isso, como cidadãos participar das eleições e que vença aquele que convencer, mas que seja Angola a melhor opção. Nenhum político merece estragar o nosso espírito africano de tratar o próximo como irmão. E não será difícil penalizar aquele político cuja língua for veneno. Os políticos fizeram a guerra, mas cabe ao povo, consciente e sóbrio, fazer a paz através do seu comportamento, através das suas escolhas.

Gociante Patissa, 8 de Abril de 2008
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2 Deixe o seu comentário:

Soberano Kanyanga disse...

Siga, amigo, no Cruzeiro do Sul os trabalhos jornalísticos que realizei no Kuito Bié. Reportagens e entrevistas. Atente tb às crónicas (de viagem)assinadas por Soberano Canhanga
Um abraço

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

Mano, valeu! contudo, essa de o Cruzeiro do Sul ter deixado de se imprimir cá tirou-nos uma certa "banga". É q agora temos de nos apressar para conseguir um exmplar, da mesma forma como corremos para conseguir qqer outro feito em Luanda.
Abraços!

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